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quarta-feira, 6 de maio de 2015

VIDA (VIDA?, SÓ SE FOR SEVERINA) NA PALESTINA OCUPADA


  por  Juracy Andrade



Quando ocorre uma catástrofe como a que acaba de atingir o Nepal, pequenino e pacífico país espremido entre a Índia e a China, há geralmente uma grande mobilização de ajuda de países abastados. É como se dissessem: a gente ajuda vocês desde que não saiam daí nem queiram invadir nossos paraísos. Depois de anos de tragédias no Mediterrâneo, com barcos precários traficando milhares de migrantes do Oriente Médio e da África para a Europa, somente agora os governos da União Europeia começam a tomar conhecimento do grave problema. E só depois que o papa Francisco visitou a ilha de Lampedusa e exigiu soluções para tanta desumanidade. Foi um pontifício esporro.

Tragédia e catástrofe por todo o mundo é o que não falta. Durante anos, na época de chamada guerra fria, os “democratas” e os governos do “mundo livre” ciscaram e reclamaram contra o Muro de Berlim. Era visto por essa gente como o símbolo máximo dos males do comunismo. Até hoje, mais de 20 anos depois, tem quem fale emocionado da derrubada do tal muro. Só não se lembram de tantos muros espalhados aí pelo “mundo livre”. Onde mais há é entre Israel e a Palestina; pior, dentro do que restou da própria Palestina, na qual o governo sionista espalha colônias judias. É muro pra lá, muro pra cá. Entre regiões do México e os Estados Unidos também há possantes muros. Mas como há, para o governo de Washington, ditaduras do bem e do mal, também há muros do bem e do mal. Os que cercam os palestinos e impedem mexicanos pobres e mestiços de terem acesso ao mercado de trabalho estadunidense seriam os “muros do bem”.

Cinismo é isso. Um exemplo: em 1993, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, líderes de Israel e da Palestina, assinaram os Acordos de Oslo, um excelente guia para uma paz justa e definitiva entre os dois povos. Do lado de Israel, tudo indica que era só para Rabin ganhar o Prêmio Nobel junto com Arafat. Um ano depois, ele foi assassinado por um fanático judeu e teve início a gloriosa (!?) Era Natanyahu.

Estou tratando de um assunto eminentemente político. Mas também profundamente religioso, o que não me afasta da temática deste Porta-Voz. Os cristãos primitivos e o próprio Jesus Cristo eram judeus. Há controvérsias sobre se havia uma intenção de criar uma nova religião, tanto o cristianismo mergulha na religião e na cultura judaicas. O certo é que Paulo, após brigar com Pedro, foi pregar o Evangelho no mundo greco-romano e, de equívoco em equívoco (não esquecer a adoção do cristianismo como religião oficial do Império; uma heresia abençoada por Roma), judeus e cristãos foram se afastando cada vez mais uns dos outros. Há facções cristãs que se dizem sionistas cristãos. E o soi-disant bispo Edir Macedo ergueu, em São Paulo, uma réplica suntuosa do Templo de Salomão.

Há, na questão Palestina-Israel, uma grande mistificação que é preciso derrubar para se poder chegar a uma plena unidade. Creio que já me referi, neste espaço, ao livro The ethnic cleansing of Palestine (que li em tradução francesa), do historiador Ilan Pappe, que é judeu e cidadão israelense. Ele diz e prova como a criação do Estado de Israel obedeceu a um projeto sionista fundamentalista, que incluía e continua incluindo a limpeza étnica dos antigos habitantes da chamada Terra Santa. Definida a partilha do território submetido anteriormente a mandato britânico, judeus treinados e apoiados inclusive pelos líderes do Partido Trabalhista (tido como de esquerda) partiram para destruir centenas de vilas palestinas delas expulsando seus proprietários e habitantes, que até hoje não podem para ali retornar.

Sob lideranças incompetentes, o que sobrou para os palestinos foi sendo comido pelas beiradas em sucessivas guerras movidas pelo Egito, Jordânia, Síria. E mais recentemente por colônias judias que fazem da Palestina uma colcha de retalhos. Tudo ilegalmente, mas com a proteção e apoio dos Estados Unidos e tolerância acovardada da ONU. O Líbano, que não fez nenhuma guerra e era a Suíça do Oriente Médio, foi completamente desmantelado por Israel, que se julgou no direito de invadi-lo para caçar refugiados palestinos, aproveitando para destruir as estruturas e a credibilidade do país. De quebra, acabaram também com a tolerância religiosa entre muçulmanos e cristãos que era sua marca.

Ano passado, foi publicado, por professores da Universidae do Havaí (EUA) um excerto de artigos da revista Biography, daquela universidade, sob o título Life in occupied Palestine. Nele diz a professora Cynthia Franklin: “A ocupação militar israelense e a colonização da Palestina são ilegais e imorais”. Pronto. Ponto. Do ponto de vista político, os sionistas querem vingar o Holocausto nas costas dos palestinos. Do ponto de vista religioso, as ações do Estado judaico afastam cada vez mais o Evangelho da Torá.

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Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

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