Maria Clara
Lucchetti Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio.
Não se trata aqui do meu
aniversário, acontecido há poucos dias. Mas de outro muito mais
importante. Quem faz um jovem aniversário de 50 anos é a revista
Concilium.
O Concílio Vaticano II,
iniciado em 1962 e encerrado em 1965, representou um marco não apenas para a
Teologia, mas para toda a vida da Igreja. Desde o discurso inaugural do
Papa João XXIII, na abertura do evento, ficou claro para a sociedade como um
todo e para a Igreja em particular que aquele era um concílio diferente dos
outros tantos já acontecidos na história. Pois não se preocupava tanto a
Igreja em julgar o passado, mas, sim, em abrir o future, a fim de que o diálogo
entre Igreja e mundo moderno e secularizado pudesse, finalmente, acontecer.
Reformas importantes foram
levadas a cabo na liturgia, no modelo de compreensão do que seja a Igreja, na
forma de entender e realizar a pastoral, no relacionamento com outras igrejas e
religiões. Na Teologia, o eixo central e ponto de partida passou a ser
antropocêntrico, e não mais teocêntrico como antes sucedia. A Igreja
Católica desejava olhar para o ser humano, suas angústias e dificuldades, mas
também suas alegrias e esperanças, para elaborar seu discurso de inteligência
da fé.
A revista Concilium,
fundada no mesmo ano em que terminou o Vaticano II (1965), pretendeu desde o
seu lançamento oferecer ao povo de Deus uma reflexão teológica em profunda e
fina sintonia com as propostas conciliares, a fim de formar e motivar as novas
gerações a se voltarem para a sociedade e a história, e a partir daí viverem
sua fé e agirem em coerência com a mesma.
Publicada há 50 anos,
cinco vezes ao ano, Concilium é uma revista de teologia que deseja atingir o
mundo inteiro. Seus editores e participantes constituem uma equipe de
alto nível em termos do mundo acadêmico. E não se compõe este comitê editorial
apenas de nomes já consagrados na teologia católica, mas igualmente de novas
vozes vindas de várias partes do mundo e que, com sua nova visão, enriquecem a
revista.
O objetivo da Concilium é,
pois, promover debate e discussão teológica no espírito do Vaticano II, a
partir do qual nasceu e se consolidou. Trata-se de uma revista católica no
sentido mais amplo do termo: enraizada firmemente na herança católica, aberta a
outras tradições cristãs e a outras tradições religiosas existentes no
mundo. Cada número de Concilium é centrado em um tema de crucial
importância e abrangente alcance para o nosso tempo.
As contribuições dos
artigos e ensaios da revista vêm da Ásia, África, América do Sul e do Norte e
da Europa. Publicada em seis idiomas - inglês, alemão, italiano, português,
espanhol e croata -, a revista reflete verdadeiramente as múltiplas facetas de
nossa sociedade plural e de uma Igreja desejosa de dialogar com esta
pluralidade.
É no sentido de celebrar
este jubileu tão importante – 50 anos de existência de uma teologia em sintonia
com os tempos e as culturas de hoje – que a PUC-Rio, através de seu
Departamento de Teologia e da Cátedra Carlo Maria Martini, do Centro de
Teologia e Ciências Humanas, organiza a partir do próximo dia 26 de maio o V
Simpósio de Teologia com o tema Caminhos de Libertação: Alegrias e
Esperanças para o Futuro.
Este Simpósio dá
continuidade à já tradicional iniciativa do Departamento de Teologia da PUC-Rio
de realizar periodicamente encontros internacionais para promoção do saber
teológico e de sua relação com outras áreas do conhecimento.
Assim,
o Simpósio soma-se às comemorações que ocorrerão em várias partes do mundo pelo
50º aniversário da revista Concilium, concomitante com o 50º aniversário do
Concílio Vaticano II. O Conselho Editorial da revista fará sua reunião
anual após o Simpósio e o público brasileiro poderá ouvir, dialogar e conviver
com teólogos de tão variadas procedências e de reconhecida competência em suas
áreas de reflexão.
A finalidade principal
deste Simpósio é aprofundar a teologia conciliar, mas não apenas olhando para o
passado – pujante e glorioso – dos pais fundadores da revista, como Rahner,
Metz, Schillebeckx, Congar, Kung e outros. Deseja-se, antes, olhar para o
futuro a partir do presente, no qual o povo cristão partilha As alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem(Gaudium et Spes 1).
Assim como o Concílio e a
Revista, que quis e quer encarnar seu espírito, o Simpósio pretende celebrar e
seguir hoje as pegadas daqueles e daquelas que configuraram essa visão de
mundo, de humanidade e de Deus. É uma rara oportunidade ouvir diferentes
vozes, de diversas latitudes e refletir sobre os grandes desafios que hoje se
apresentam à fé e à teologia. Por isso, cada conferencista, cada
painelista, cada debatedor apresentará, a partir da sua disciplina, suas
esperanças para o futuro da teologia em um mundo tão diverso e cambiante.
Esperamos
que seja uma bela celebração! Feliz Aniversário, Concilium! E
continue corajosamente mostrando ao mundo o que o Cristianismo tem a contribuir
para os grandes problemas e inquietações da humanidade!
A teóloga é autora de “Simone
Weil – Testemunha da paixão e da compaixão" (Edusc)
Copyright 2015 –
MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>
Nenhum comentário:
Postar um comentário