Por
Marcelo Barros
Em
meio a um mundo, cada vez mais diversificado, a unidade entre pessoas e a paz
no mundo representam desafios sempre mais exigentes. O Conselho Mundial de
Igrejas que reúne 345 confissões cristãs promove a cada ano uma Semana de
Oração e Diálogo pela Unidade das Igrejas. No Brasil, essa semana acontece
nesses dias, de 17 a 24 de maio, semana anterior à festa de Pentecostes, na
qual os cristãos celebram a presença amorosa do Espírito de Deus em toda a
criação e no mais íntimo de toda pessoa humana. No Brasil, a Semana de Oração
pela Unidade tem seus subsídios preparados e coordenados pelo CONIC (Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs), com apoio da CNBB e de outros organismos
católicos e evangélicos. Ao escrever sua carta sobre a alegria do evangelho, o
papa Francisco insistiu que, como, há mais de 50 anos, o Concílio Vaticano II
afirmou: “a divisão entre os cristãos é um contratestemunho que não colabora
para a paz do mundo e se constitui como um obstáculo ao cumprimento da missão
evangélica” (Cf. EG n. 244-246). Por isso, cristãos das mais diversas Igrejas,
membros de outras religiões e mesmo pessoas de boa vontade, não ligadas a
nenhuma tradição religiosa, estão convidadas/os a entrar em uma espécie de
mutirão de diálogo e de busca da comunhão que supera a divisão, mas respeita a
diversidade.
Cada
vez mais, o Brasil se caracteriza por uma grande pluralidade de culturas e
religiões. Há milhares de anos, por todo o nosso território, povos diversos
viviam suas tradições próprias e tinham seu modo de adorar o Espírito presente
na natureza. Há 500 anos, com a conquista, os portugueses trouxeram o
Cristianismo e impuseram a todos a Igreja Católica. Com o decorrer dos tempos,
esse quadro foi transformado. Tornou-se mais rico e diversificado. Atualmente,
o Cristianismo tem quatro grandes tipos
de Igrejas: as Ortodoxas, a Católica, as Evangélicas e as Pentecostais. Entre as
evangélicas, temos Igrejas Luteranas, Episcopais anglicanas, a Igreja Metodista,
as presbiterianas, batistas e outras. Do Pentecostalismo clássico, temos as Assembleias
de Deus, a Igreja do Evangelho Quadrangular, a Congregação Cristã do Brasil e
outras. Neopentecostais ou de um Pentecostalismo autônomo são a Igreja
Universal do Reino de Deus, a Casa da Bênção, Renascer e outras.
Em
meio a essa grande diversidade, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) é
uma pequena fraternidade de Igrejas. Estas se reúnem para apoiar-se umas às
outras na missão e no serviço à humanidade, assim como para estimular o
respeito e o diálogo dos cristãos com as outras tradições religiosas presentes
e atuantes no território nacional.
No
decorrer da história, muitas vezes, em nome de Jesus, os missionários católicos
e evangélicos perseguiram e condenaram as outras religiões. Aqui no Brasil, até
hoje, infelizmente, há cristãos que discriminam e atacam as tradições
religiosas indígenas e afrodescendentes. Esse modo de agir, além de ilegal e
vergonhoso, dá um péssimo testemunho de Jesus que sempre valorizou a fé de
pessoas de outras culturas e religiões, como a mulher samaritana, a sírio
fenícia e o oficial romano, cujo filho, ele curou.
Nessa
semana de oração pela unidade, o tema geral é tirado da conversa de Jesus com a
mulher samaritana: “Dá-me um pouco da tua água” (Cf. João 4). À beira do poço,
Jesus lhe havia pedido: “Dá-me de beber”. Ao saber que Jesus poderia lhe dar
uma água viva que jorra para sempre, a mulher lhe pede: “Dá-me um pouco dessa água”.
O evangelho mostra que a água representa tudo aquilo que cada um de nós pode
compartilhar com o outro. No entanto, significa principalmente o dom do
Espírito que Deus quer dar a todas as pessoas nas mais diversas culturas. Por
sua ressurreição, Jesus nos comunica esse presente divino (Jo 7, 37). Com
Jesus, queremos aprender o que Deus quer nos dizer através das outras
expressões de fé. Respeitar as outras religiões e com elas entrar em diálogo é
uma forma de testemunhar que Deus é amor e que o seu Espírito se manifesta de
mil maneiras no mundo. Ele não assinou contrato de exclusividade com nenhuma
religião, ou tradição espiritual. No próximo domingo, festa de Pentecostes, no
mundo inteiro, as Igrejas de tradição latina iniciarão a celebração da Ceia do
Senhor com uma palavra do livro da Sabedoria: “O Espírito do Senhor, o universo todo encheu. Tudo abarca em seu
saber, tudo enlaça em seu amor, aleluia” (Sb 1, 7).
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países
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