Por
Marcelo Barros
Na semana passada, a ONU comemorou o
“dia internacional pela liberdade dos meios de comunicação” e no próximo
domingo, 17, celebra o “dia das telecomunicações”. Atualmente, o telefone
celular e a internet nos ligam, em tempo real, ao mundo inteiro. No entanto, são
ainda os noticiários da televisão e do rádio que mais formam a opinião pública.
De um lado, os proprietários das
redes de rádio, televisão e jornal veem qualquer tentativa de regulação desses
meios como censura e ataque à liberdade de imprensa. Do outro lado, cada dia
fica mais claro que as grandes agências de comunicação servem aos interesses
das elites econômicas, até porque em quase todos os países, poucas famílias
possuem os meios de comunicação e sempre têm grandes interesses comerciais. As
grandes agências de notícias norte-americanas são propriedades das mesmas
empresas que possuem as companhias de
petróleo e indústrias de armamento.
No Brasil e em outros países do
continente, as televisões privilegiam programas que investem em preconceitos
sociais, ridicularizam direitos humanos e fazem propaganda subliminar a favor
da pena de morte. Sob a direção do presidente da Câmara Federal, pregam a
diminuição da idade penal, como se colocar adolescentes em prisões resolvesse o
problema da violência nas cidades. Além disso, criminalizam os movimentos
populares e atacam de todos os modos qualquer governo que, na América Latina,
pretenda transformar a sociedade. As pessoas que têm sua opinião formada
através desses meios de comunicação chegam a pensar que, no Brasil, só existem
corrupção política e violência e essa situação é culpa do governo federal. De
fato, esse tem cometido erros e tem sua parcela de culpa, mas de um modo e por
fatores contrários a aqueles que os
meios de comunicação apontam.
Há exatamente um mês, nos dias 11 e 12 de
abril, em Belo Horizonte, ocorreu o 2o Encontro Nacional pelo
Direito à Comunicação. Ali mais de 700 pessoas ligadas ao trabalho da
comunicação e aos movimentos sociais se reuniram e reafirmaram a necessidade
urgente do Brasil ter instrumentos de regulação democrática dos meios de
comunicação. Em sua carta de conclusão, os/as participantes desse encontro
pedem ao governo de abrir oficialmente esse debate na sociedade e concluem: “A
defesa da democracia é uma das principais bandeiras de luta da sociedade
brasileira. E a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática só se
realiza se houver liberdade de expressão para todos e todas. Isso pressupõe a
garantia do direito à comunicação” (Cf. Brasil de Fato, 16/04/2015, p. 08).
De fato, a sociedade brasileira
nunca deveria aceitar que pais de família, apenas acusados de corrupção, mas
não condenados por nenhum tribunal, tenham sua fotografia em capas de revista e
cartazes com seu nome estampado e embaixo a legenda: “Dez anos de corrupção”. E
isso é feito sem que nenhuma defesa real possa ser apresentada. É um
linchamento público no estilo do velho oeste norte-americano, sem respeitar as
famílias envolvidas, filhos de menor idade, apenas para saciar o ódio de classe
da velha elite que não se conforma em ter sido derrotada nas últimas eleições
presidenciais.
Para os cristãos, o termo evangelho significa boa notícia no
sentido do anúncio de que Deus tem um programa para o mundo. Todos nós somos
chamados a testemunhar e colaborar com essa novidade. Por isso, atualmente,
muitas vezes, são os/as jornalistas verdadeiramente éticos/as e profissionais
de comunicação que assumem a função de verdadeiros evangelizadores, não de
doutrinas religiosas e sim do projeto divino de justiça e paz para o mundo.
Através desses profissionais, os meios de comunicação podem cumprir sua função
de fazer desse mundo um planeta de paz e de convivência amorosa entre todos os
seres humanos e em comunhão com a Terra e toda a natureza.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países
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