por Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia
da PUC-Rio
Chega o dia
das mães e sempre gostamos de homenagear seja a nossa mãe, ou as mães da
família ou mães amigas. Também já escrevi muito sobre mães distantes que
passavam situações difíceis ou exemplos de mães que assumiram atitudes
corajosas perto ou longe de nós.
Minha mãe já
se foi e convive comigo desde outra dimensão. Minhas filhas e minha nora
são mães amorosas de lindos filhos, e delas sou devota e admiradora. Hoje, aqui
e agora, neste dia das mães, quero homenagear uma mãe pela qual tenho muito
carinho. É filha de grandes amigos. Eu a vi pequenininha e de certa
maneira acompanhei seu crescimento, sendo meu marido padrinho de sua irmã e
minha filha mais velha amiga de seu irmão.
Nana – este
é seu apelido carinhoso com o qual é chamada em família – cresceu e eu a
encontrei já grande. Jamais foi uma menina comum. Sempre as grandes
causas da humanidade, a justiça e a paz, a pobreza e os direitos humanos,
encheram sua mente privilegiada de inúmeras questões inspirando muitas de suas
decisões na vida.
Encontrei-a após uma ida ao Haiti, onde trabalhou
durante um tempo. Lá conheceu um rapaz que começou a namorar.
Depois via-a no aeroporto; ia ao encontro dele para viajarem juntos pela
América Central. Linda, sorridente, era visível que estava
amando. E eu lhe disse: você vai casar com ele, Nana. Ela
perguntou: Você acha, tia? A tia achou que sim e acertou.
Nana
teve sua primeira filha, uma menina linda e esperta. E escreveu um belo
livro a partir de sua experiência de convivência com sua bebê. Aliás, essa é
outra veia que nela sempre esteve presente: a escrita. Nana é uma grande artesã
da palavra, elaboradora de textos e esse é o trabalho ao qual se dedica
profissionalmente.
Após
o nascimento da primeira filha, e do filho de papel, ficamos sem notícias
durante algum tempo da vida e milagres de Nana. Tudo ia bem. Quando não
há notícias, são boas notícias, diz o dito popular. Até que há pouco tempo
soubemos que estava novamente grávida.
A segunda menina, Carolina, nasceu. E quando já
planejávamos visitar Nana, recebemos uma lindíssima carta dela e do marido
narrando o nascimento da filha e as circunstâncias especiais que o
configuravam.
Tudo parecia correr normalmente até que a pediatra disse a
Nana e ao marido que eram necessários exames porque Carolina apresentava talvez
uma síndrome ainda não identificada. Foram dias de angústia e pesadelo
até que o geneticista disse aos pais o diagnóstico: Carolina tinha síndrome de
Down.
Em sua corajosa narrativa e em sua mensagem aos amigos, Nana
nem por um minuto camufla o choque do primeiro momento. E quem não o
sentiria? Mas esse choque já vem narrado, envolvido pelo amor
incondicional sentido pelos pais da linda Carolina e pela firmeza e decisão de
amá-la de todo coração.
Como diz belamente Nana em seu texto: “Carolina é Minha Filha
antes de ter isso ou aquilo. O primeiro é ser filha, amada, querida e o
que ela é ou tem vem junto com esse ser filha que é o primeiro que importa e na
verdade o único que realmente tem peso verdadeiro.”
Ao lado do marido que a apoia incondicionalmente e divide com
ela o amor apaixonado pela bebezinha, Nana lutou logo de início contra o
preconceito e a falta de sensibilidade das pessoas que não conseguem mudar suas
atitudes mentais e dela se aproximavam com palavras infelizes e consolos
tortos.
Nana não queria consolo e sim parabéns. E deixou isso bem
claro na mensagem que escreveu aos amigos e parentes. Carolina é
sua filha amada, um ser humano belo e maravilhoso, que vai levar uma vida cheia
de amor nessa família onde nasceu, e que a acolheu e acolhe cada dia de braços
abertos.
Passado um ano, Carolina a faz a mãe mais feliz do mundo.
Segundo ela mesma diz, com ela aprendeu que “não temos controle nenhum nesta
vida. Nossa missão me parece ser a de aprender a amar.” Sim, Nana, eternos
aprendizes do amor somos nós. Mas devo dizer que pessoas como você, seu
marido e Carolina ajudam muito nesta aprendizagem que não tem fim.
Por isso, neste dia das mães, parabéns, parabéns e
parabéns. Pela Carolina e por você e sua família. Por tudo que você é e
ensina com seu jeito de ser mãe. Mãe da Carolina e
da irmã dela. Você só merece parabéns e nada mais.
A foto de vocês quatro, Carolina no colo do pai, com um
sorriso encantador e a mãozinha esquerda levantada parece dizer: “Oi
gente, estou aqui. E estou adorando viver! ” Parabéns, querida e
que você passe um belíssimo Dia das Mães. E que possa nos ensinar a
amar. Sem dúvida, essa é a missão de Carolina, que você transmite muito
bem a todos nós.
A teóloga é autora de “O mistério e o mundo –
Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.
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