por Juracy Andrade
O título contém palavras
do papa Francisco. Depois do meu último artigo neste O Porta-Voz, ele recebeu
no Vaticano o chefe da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e tomou a
iniciativa de reconhecer oficialmente o Estado Palestino. Fatos que estão
intimamente ligados ao que escrevi um mês atrás.
Falava eu então que o
fundamentalismo sionista não representa o povo judeu nem a religião judaica. Ilan
Pappe diz e prova que a criação do Estado de Israel obedeceu a tal
fundamentalismo que incluía e continua incluindo a limpeza étnica dos antigos
habitantes da chamada Terra Santa (de judeus, muçulmanos e cristãos). Essa
limpeza começou, findo o mandato britânico, com a destruição de centenas de
povoações palestinas e expulsão dos antigos moradores. Até hoje eles não podem voltar
à terra de seus ancestrais e se espalham por campos de refugiados ou migraram
para outros países, como o Brasil.
Voltando a Francisco,
nunca é demais lembrar sua exortação apostólica de 2013, a Evangelii gaudium
(Alegria do Evangelho), que constitui uma espécie de programa para o seu
pastoreio (programa de governo, diriam os políticos). Zildo Rocha, que foi meu
colega na Universidade Gregoriana de Roma e é uma pessoa de quem muito gosto,
fez desse anúncio do Evangelho no mundo atual uma leitura com anotações em que
me baseio para me comunicar com minhas leitoras e meus leitores.
Deixando de lado a pompa
imperial e distante com a qual os papas mais recentes, João Paulo e Bento (e os
medievais e renascentistas?), se dirigiam a seus colegas de episcopado, ao
clero, pessoas consagradas e fiéis leigos, o bispo de Roma, como Francisco
gosta de se apresentar, convida todos os católicos romanos e todos os fiéis
cristãos a uma nova etapa eclesial de evangelização marcada pela alegria e
indicadora de novos caminhos a serem percorridos pela Igreja. A nova etapa a
que se refere tem a marca da alegria que dá título à exortação, alegria
evangélica ancorada em textos de Isaías e outros profetas, enraizada no Antigo
Tetamento.
As primeiras palavras do
texto papal, observa Zildo Rocha, são uma ode à alegria do Evangelho, inspirada
na salvação superabundante dos tempos messiânicos anunciada por Isaías (9,2;
12,6; 40,9; 49,13); no canto triunfal do rei que chega humilde montado num jumento
suscitado por Zacarias 9,9: “Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de
júbilo, filha de Jerusalém!”; e pela consolação do profeta Sofonias (3,17) ao
apresentar o próprio Deus como centro irradiante de festa e de alegria: “O
Senhor Deus está no meio de ti, como poderoso salvador! Ele exulta de alegria
por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua
causa”. No Novo Testamento, há outros insistentes convites à alegria nos
Evangelhos de Lucas e João e nos Atos dos Apóstolos (Lucas 1,28,41 e 37; João
3,29; 15,11,16,22; 20,20; Atos 2,46; 8,8; 13,52; 8,39;16,34).
O sorriso e a alegria de
Francisco lembram muito o sorriso de dois papas memoráveis, João 23 e João Paulo
1º. O primeiro, por um descuido dos cardeais eleitores, teve tempo de convocar
o renovador Concílio dos anos 1960, que o atual papa está podendo implementar.
O segundo, o breve papa que veio de Veneza, só teve um mês de vida e morreu
misteriosamente. O que ocorre no Vaticano não pode ser investigado pela polícia
italiana. Daí sabiamente Francisco não querer morar nos aposentos papais do
assim dito Palácio Apostólico, preferindo misturar-se a gente confiável, comer
no bandejão dos seus funcionários, mostrando assim mais facilmente sua alegria
evangélica.
Juracy Andrade é
jornalista com formação em filosofia e teologia
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