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quarta-feira, 3 de junho de 2015

A ALEGRIA DO EVANGELHO. NÃO HÁ QUARESMA SEM PÁSCOA, SEM PENTECOSTES


por  Juracy Andrade

 O título contém palavras do papa Francisco. Depois do meu último artigo neste O Porta-Voz, ele recebeu no Vaticano o chefe da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e tomou a iniciativa de reconhecer oficialmente o Estado Palestino. Fatos que estão intimamente ligados ao que escrevi um mês atrás. 

Falava eu então que o fundamentalismo sionista não representa o povo judeu nem a religião judaica. Ilan Pappe diz e prova que a criação do Estado de Israel obedeceu a tal fundamentalismo que incluía e continua incluindo a limpeza étnica dos antigos habitantes da chamada Terra Santa (de judeus, muçulmanos e cristãos). Essa limpeza começou, findo o mandato britânico, com a destruição de centenas de povoações palestinas e expulsão dos antigos moradores. Até hoje eles não podem voltar à terra de seus ancestrais e se espalham por campos de refugiados ou migraram para outros países, como o Brasil.

Voltando a Francisco, nunca é demais lembrar sua exortação apostólica de 2013, a Evangelii gaudium (Alegria do Evangelho), que constitui uma espécie de programa para o seu pastoreio (programa de governo, diriam os políticos). Zildo Rocha, que foi meu colega na Universidade Gregoriana de Roma e é uma pessoa de quem muito gosto, fez desse anúncio do Evangelho no mundo atual uma leitura com anotações em que me baseio para me comunicar com minhas leitoras e meus leitores.

Deixando de lado a pompa imperial e distante com a qual os papas mais recentes, João Paulo e Bento (e os medievais e renascentistas?), se dirigiam a seus colegas de episcopado, ao clero, pessoas consagradas e fiéis leigos, o bispo de Roma, como Francisco gosta de se apresentar, convida todos os católicos romanos e todos os fiéis cristãos a uma nova etapa eclesial de evangelização marcada pela alegria e indicadora de novos caminhos a serem percorridos pela Igreja. A nova etapa a que se refere tem a marca da alegria que dá título à exortação, alegria evangélica ancorada em textos de Isaías e outros profetas, enraizada no Antigo Tetamento.

As primeiras palavras do texto papal, observa Zildo Rocha, são uma ode à alegria do Evangelho, inspirada na salvação superabundante dos tempos messiânicos anunciada por Isaías (9,2; 12,6; 40,9; 49,13); no canto triunfal do rei que chega humilde montado num jumento suscitado por Zacarias 9,9: “Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém!”; e pela consolação do profeta Sofonias (3,17) ao apresentar o próprio Deus como centro irradiante de festa e de alegria: “O Senhor Deus está no meio de ti, como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa”. No Novo Testamento, há outros insistentes convites à alegria nos Evangelhos de Lucas e João e nos Atos dos Apóstolos (Lucas 1,28,41 e 37; João 3,29; 15,11,16,22; 20,20; Atos 2,46; 8,8; 13,52; 8,39;16,34).

O sorriso e a alegria de Francisco lembram muito o sorriso de dois papas memoráveis, João 23 e João Paulo 1º. O primeiro, por um descuido dos cardeais eleitores, teve tempo de convocar o renovador Concílio dos anos 1960, que o atual papa está podendo implementar. O segundo, o breve papa que veio de Veneza, só teve um mês de vida e morreu misteriosamente. O que ocorre no Vaticano não pode ser investigado pela polícia italiana. Daí sabiamente Francisco não querer morar nos aposentos papais do assim dito Palácio Apostólico, preferindo misturar-se a gente confiável, comer no bandejão dos seus funcionários, mostrando assim mais facilmente sua alegria evangélica.



Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

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