Por Marcelo
Barros
A ONU
consagra o 1o de outubro como dia internacional de proteção às
pessoas idosas. No Brasil, nessa data, em 2003, foi assinado o Estatuto do Idoso. Nesse mesmo
ano, a CNBB começou a Pastoral das Pessoas Idosas, com o objetivo de assegurar
a dignidade e a valorização integral dos idosos na sociedade.
No mundo
atual, um número sempre maior de pessoas atinge idades que, em outros tempos,
poucos conseguiam alcançar. O desafio é lhes proporcionar uma vida o mais possível
ativa e integrada no conjunto da sociedade. Na sociedade atual, apesar do
envelhecimento da população, a sociedade é pensada para a juventude. Como os mais
velhos não produzem mais, perdem sua importância social. Parece que só a
juventude importa. As pessoas fazem cirurgia plástica e malhação para se manter
sempre jovens. Envelhecer se torna mais doloroso e difícil. No Brasil, são 22
milhões de pessoas que passam dos 65 anos. Isso exige aumento de assistência e médicos
especializados. Uma senhora de mais de
90 anos afirmava à sua filha: “Agora, está muito difícil morrer”.
Em muitas
cidades, existem associações da terceira idade que promovem encontros, lazer,
danças e até passeios. Para elas, as universidades têm programas de extensão
universitária e atividades como cursos de computação, ginástica, natação,
música, dança e outras artes.
Às pessoas
idosas e a toda sociedade, essas organizações propõem fazer as coisas com calma
no lugar da agitação. Sugerem a disponibilidade no lugar do estresse. Valorizam
mais a identidade do que só a função; a qualidade e não somente a quantidade.
Trata-se, finalmente, de viver a graça do dia de hoje mais do que o afã da
permanente projeção para o amanhã.
Em qualquer
cultura, para toda pessoa, envelhecer é sempre um processo difícil e exigente.
Não é fácil ver o corpo ir progressivamente decaindo e manter o espírito
jovial. Envelhecer fisicamente é um processo inexorável e ninguém pode mudar
isso. Não depende da vontade da pessoa. No entanto, podemos fazer escolhas que nos
permitam envelhecer de forma mais humanizada e humanizadora. Ninguém sabe ainda
a causa biológica do envelhecimento, nem se pode, até agora, deter ou evitar
esse fenômeno. Clineu de Melo, médico especialista em Geriatria da USP,
afirmou: “O envelhecimento é a perda gradativa das reservas que todos os
organismos têm para usar em momentos de estresse”[1].
Todos os organismos foram pensados pela natureza para nascer, viver,
reproduzir-se e depois morrer. Há uma seleção natural. Nesse sentido, pelo que
se sabe, durante milênios, o ser humano a média da vida humana era de 30 anos.
Vários cientistas dizem que, a partir dos 30 anos, entramos em uma etapa da
vida para a qual a seleção natural não nos preparou. Leonard Stayflick,
professor na Universidade de Califórnia, chega a afirmar: “A velhice é um
produto da civilização. Só ocorre propriamente nos seres humanos, nos animais
domésticos e nos mantidos em zoológicos e em laboratórios”. Comumente ligamos o
envelhecimento à idade e, de fato, há uma relação, mas não é direta e linear.
Há pessoas de 90 anos que parecem ter 70 e há pessoas de 60 com jeito de 90.
Apesar de não se poder generalizar, há uma pesquisa que mostra que a
longevidade humana é maior em mosteiros budistas, em conventos cristãos, em
templos de Candomblé e em comunidades de outras religiões do que na sociedade
na qual as pessoas mais velhas são simplesmente postas em asilo ou em depósitos
humanos esperando a morte. É claro que o processo do envelhecimento depende da
saúde, do clima e mesmo da raça a qual pertencemos, mas depende também do
temperamento e estilo de vida. Por isso, podemos dizer que até certo ponto a
espiritualidade, isso é, a energia do espírito em ação na pessoa, pode ter aí
uma boa influência. A primeira coisa que as tradições espirituais propõem é
manter sempre um projeto de vida profundo e de acordo com o projeto divino para
o mundo e a comunidade a qual pertencemos. No começo dos anos 90, no Recife,
Dom Hélder Câmara, com seus quase 90 anos, recebeu a visita do Abbé Pierre, fundador
de uma associação que trabalha com sofredores de rua. Os dois anciãos conversaram
durante horas. Depois, um jornalista perguntou: - Como vocês se sentem ao
perceber que, depois de consagrarem toda a vida à libertação dos pobres do
mundo, conseguiram tão pouco? Dom Helder falou: - Ficamos felizes de ter
conseguido ao menos esse pouco e nos comprometemos em dar até o nosso último
suspiro por essa causa na qual acreditamos e pela qual queremos dar a vida.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países
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