por Juracy Andrade
Desde o dia 16 está no ar
o Blog do Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC) que pode ser acessado via www.institutodomhelder.blogspot.com.br,
criado e tocado pela editora deste O Porta-Voz, a jornalista Rejane Menezes.
No último número que recebi
do Jornal Igreja Nova, é levantada uma questão bem pertinente sobre
beatificação, canonização. Diz-se ali que bispos, teólogos, leigos afirmam que
dom Helder não gostaria dessa iniciativa de fazê-lo oficialmente santo
canonizando-o.
Também acho que essa
oficialização não faz sentido, pois santo é santo e pronto, aquele cristão que
seguiu fielmente o Evangelho, testemunhando a fé em Jesus Cristo e sua pregação,
amando o próximo e vivendo a esperança da ressurreição. A canonização nasceu na
Idade Média. Os grandes santos mais antigos, como os Patres Ecclesiae (Padres
da Igreja), gregos e latinos, não precisaram da oficialização de sua condição
de santos. À medida, porém, que a Igreja Católica Romana e o papado foram
acrescentando e enrijecendo seus preceitos e privilégios, esnobando solenemente
as demais igrejas fundadas pelos apóstolos e seus sucessores, a, digamos,
oficialização da condição de santo também foi sendo assumida e centralizada
pelos papas, através da canonização. Igrejas ortodoxas orientais também usam a
canonização.
Pode-se imaginar que os
papas e os cardeais que os cercam passaram a utilizar essa abusiva
oficialização para ignorar os que não lhes agradavam e favorecer seus
preferidos. Lembro que, pouco após a 2ª Guerra Mundial, Pio 12 canonizou às
pressas uma garota, Maria Goretti, que tinha sido morta ao resistir a um
estupro, algo infelizmente muito comum. Na briga pessoal do papa Pacelli contra
o comunismo (a Itália tinha um Partido Comunista forte e aguerrido), que o
levou a proteger nazistas e fascistas (um mal menor, para ele) livrando-os de
julgamentos e dando-lhes passaportes para a América do Sul, ele precisava
mostrar ao mundo que uma menina católica, não comunista, sabia resistir
heroicamente a abusos sexuais.
Mas isso não é nada em
comparação às canonizações do papa polonês, João Paulo 2º, que incluem um
pedófilo mexicano e o fundador do Opus Dei, uma organização secreta pseudorreligiosa,
entre outras escolhas duvidosas.
Na mesma edição a que me
refiro do Jornal Igreja Nova, tem um artigo do monge Marcelo Barros onde ele lembra
que Padre José Comblin observava que os processos de canonização foram se
tornando, muitas vezes, instrumentos de manifestação do poder eclesiástico.
Tanto que, na lista dos santos oficializados, temos os que pregaram as
famigeradas Cruzadas, ensaio geral do colonialismo, papas que guerrearam por
seu poder político, reis e rainhas que fizeram guerras, cardeais que presidiram
a Inquisição e condenaram ao suplício da fogueira irmãos que eles enxergavam
como hereges etc., etc.
Concluindo. Em 1971, em
plena ditadura, com o golpe dentro do golpe do AI-5, dom Pedro Casaldaliga
escreveu a carta pastoral “Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio
e a marginalização social” e, em 1975, promoveu um encontro de bispos em
Goiânia, quando foi criada a Comissão Pastoral da Terra, que vem fazendo um
magnífico trabalho. Mesmo com uma CNBB manietada por um pontificado reacionário
como o do papa Wojtyla, a comissão prosseguiu sua obra em prol dos sem terra,
dos marginalizados e hoje tem as bênçãos de Francisco de Roma, uma papa que
veio do fim do mundo (como ele mesmo diz) para, como Francisco de Assis,
consertar a Igreja.
Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia
Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia
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