Por Marcelo Barros
As comemorações do
dia internacional da mulher nos fazem ver o papel fundamental das mulheres nos
movimentos sociais. O Patriarcalismo está na base de muitos males da sociedade.
Por isso, a luta pela igualdade na relação de gêneros e pelos direitos da
mulher une a todos, homens e mulheres. No entanto, na maioria dos grupos de
base e iniciativas, a liderança é das mulheres. Em todo o Brasil, existe uma
centena de organizações e movimentos de mulheres que lutam pela justiça e
igualdade. A maioria de mulheres pobres. A Organização das Quebradeiras de Coco
e o Movimento de Seringueiras na região amazônica, assim como o Coletivo das
Mulheres Negras em defesa da Vida no Sul do Brasil se unem na mesma caminhada. No
Movimento de Trabalhadores sem Terra, MST e nas lutas de periferia urbana tem se
fortalecido o protagonismo das mulheres. Camila Moraes, 28 anos, gaúcha e
jornalista, criadora da revista eletrônica Acho
digno retrata lutas como o projeto “Minha mãe não dorme enquanto eu não
chegar”, ação direcionada para as mães dos jovens assassinados pela polícia e
pelo tráfico nas periferias urbanas. Mulheres jovens, muitas das quais negras
de periferia, formam a Frente Nacional das Mulheres do Hip-hop. Na Bahia, se
destaca o Instituto Odara, organização cultural de mulheres negras. No Rio e
São Paulo, a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). Há alguns
meses, o governo de São Paulo decidiu fechar várias escolas públicas. Então,
jovens e adultos tomaram a iniciativa de ocupar as escolas fechadas. Mulheres
negras lideraram as mobilizações e muitas delas sofreram forte repressão
policial. No interior do Ceará, a organização de mulheres Pretas Simoa trabalha a diversidade religiosa e contra a discriminação,
o fortalecimento da dignidade negra e a defesa de trabalhadoras domésticas. Esse
grupo tem o nome de Tia Simoa, mulher que, no século XIX, liderou greves de
jangadeiros no Ceará e lutou pela abolição da escravatura.
Só quando sabemos
da existência de todos esses movimentos, compreendemos o sucesso da Marcha das
Mulheres Negras, realizada em 18 de novembro de 2015, em Brasília. O Le
Monde Diplomatique afirmou: “cerca de 50 mil mulheres negras de
todo o país ocuparam as ruas da capital para representar com o seu corpo e sua
alma os 48, 6 milhões de mulheres negras brasileiras que, segundo o IBGE,
constituem cerca de 25, 5% da população brasileira”. Larissa Santiago,
integrante do Blogueiras Negras,
afirma: “2016 será o ano de refazer os laços entre nós e entre todos que
acreditam nas mudanças e na revolução capitaneada pela mulher negra” (Daniela
L. da Silva e Juliana C. Nunes, Dandaras
rebeladas, in Le Monde Diplomatique Brasil, fev. 2016, pp. 9 – 10).
Esse protagonismo das mulheres nos movimentos
sociais é internacional. Existe a Rede de Mulheres Afro-Latino-americanas do
Caribe e da Diáspora. Em maio, na Bahia, a organização internacional AWID
(Associação Mulheres e Desenvolvimento) vai promover um fórum com o tema:
“Futuros feministas: construindo poder coletivo em prol dos direitos e da
justiça”. Na luta pela educação e para garantir pela equidade no mercado de
trabalhos, a revista internacional The
Economist considerou a doutora em
Psicologia Cida Bento, uma das 50 profissionais mais influentes do mundo no
campo da diversidade.
Para as comunidades cristãs, esse dia
internacional da mulher ocorre em plena Quaresma e durante a Campanha da
Fraternidade Ecumênica sobre o cuidado com a Terra, a Água e o Saneamento
Básico. Também nas Igrejas, muitas comunidades são coordenadas por mulheres,
mesmo se algumas confissões ainda não se abrem plenamente a essa participação. Quem
se deixa guiar pelo Espírito, qualquer que seja a sua tradição religiosa, sabe
que a desigualdade ou discriminação, seja de gênero, racial ou social são
anti-espirituais. O apóstolo Paulo escreveu: “Judeus e gregos, homens e
mulheres, escravos e livres, todos formamos uma unidade e somos iguais em
Cristo” (Gl 3, 28)
Nessa semana em que o mundo inteiro celebra
a causa da igualdade de gêneros, recordemos o que disse o Dalai Lama: “Todos
temos de desenvolver a capacidade de empatia recíproca que, interiormente, cada
pessoa possui. É a incapacidade de suportar o sofrimento da outra pessoa. Só a
solidariedade compassiva salvará o mundo”. No Brasil, as organizações de
mulheres de periferia e movimentos populares nos ensinam isso. Parabéns!
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