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sábado, 23 de outubro de 2021

O Estado burguês e uma educação quase inútil

 Prof. Martinho Condini


 

Os clássicos do marxismo, em sua práxis política, trataram do Estado como uma realidade mais complexa do que a definição da teoria marxista do Estado.

No marxismo o aparelho repressivo de Estado compreende o governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões, a educação, etc. Eles são repressivos porque através da violência (física ou não, como a violência administrativa), exercem o suposto papel de guardiãs da sociedade.

Para Gramsci o Estado não se resumia ao aparelho repressivo, mas que este é composto de aparelhos ideológicos representados por instituições inseridas na sociedade civil.

Quando falamos dos aparelhos ideológicos de Estado estamos nos referindo: a família, a escola, a religião, a justiça, ao sistema político, aos sindicatos, a cultura (letras, belas artes, esportes, cinema, teatro, etc.), a imprensa, o rádio, a televisão, as redes sociais e a relação capital-trabalho tão perverso no capitalismo selvagem e neoliberal que aflige as sociedades.

Apesar das diferenças existentes entre o aparelho repressivo do Estado e os aparelhos ideológicos do Estado, ambos caminham juntos em perfeita harmonia em prol dos interesses daqueles que estão no comando do Estado e a serviço dos grupos que eles representam, ou seja, a classe dominante.

Estes aparelhos ideológicos funcionam por meio da ideologia das classes dominantes que detêm o poder e o controle do Estado e, conseqüentemente, dispõe do aparelho repressivo de Estado a seu favor.

Mesmo diante desta hegemonia e controle das classes dominantes, os aparelhos ideológicos de Estado são também espaços e lugares de luta de classes, pois neles as classes exploradas podem resistir e encontrar formas de resistência, como por exemplo, a escola. Quero ressaltar o quanto é importante o papel da professora e do professor nesse engajamento e resistência. A escola é também um espaço de luta, não nos esqueçamos que educar para a liberdade é um ato político. E isso se dá através do diálogo e da conscientização, e não por meio do controle e da dogmatização realizada pelo aparelhamento do Estado.     

Muitas vezes a escola funciona como aparelho ideológico de Estado com muita eficiência, pois tem nele uma matéria prima de rica potencialidade a ser moldada. Às crianças e os jovens são inseridos os valores sociais, morais, filosóficos e éticos que interessa ao Estado burguês e não valores universais. E temos que considerar que a presença dessas crianças e jovens na escola é obrigatória por anos, o que facilita a sua doutrinação.

Por isso, é fundamental que professoras e professoras dentro do espaço escolar suspeitem do trabalho que o Estado os obriga a fazer. Por isso, não devem se deixar levar pelo tão natural e o raso discurso da importância da escola a qualquer preço. De qual escola? De qual Educação? Bancária ou Libertadora? Se for aquela escola quase inútil que tem como principal objetivo atingir os índices dos sistemas avaliativos governamentais para que o Estado receba verbas do Banco Mundial, essa? Interessa a quem?

Mas há uma parcela de professoras e professores se desinteressam em fazer esses questionamentos ao Estado que lhe paga o salário e lhe garante o sustento da família. Mas é importante não  esquecermos  que escola não é fábrica e crianças e jovens vão para a escola para aprender e ensinar, construir conhecimento com o outro e se espantar com as surpresas e os desafios. E que professoras e professores não são meros papagaios de pirata repetidores das ideias e práticas determinadas pelos lacaios que comandam o Estado burguês.

  Por outro lado, o alento é que há muitas professoras e professores engajados na resistência e na luta, que diuturnamente no chão da sala de aula, com muito trabalho enfrentam com garra e galhardia essa nobre tarefa da ensinagem e da aprendizagem que liberta.

E a qualquer vacilo do Estado em mostrar suas garras, lutam pela dignidade e liberdade de seus alunos e alunas. E cada uma dessas professoras e professores, como se fossem beija flores, fazem os seus trabalhos no chão da sala de aula, formando cidadãs e cidadãos conscientes de seu papel na sociedade e sabedores da sua condição de sujeitos da história, capazes de transformar a sua história e da sociedade que fazem parte. 


 O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com 

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