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domingo, 10 de outubro de 2021

AMOR E PARÁBOLAS, EM TEMPOS DE CORONAVIRUS (2)

FREI ALOÍSIO FRAGOSO


(08/10/2021)

 

     Em nossa Reflexão anterior apreciamos uma parábola narrada por Jesus, em resposta a um doutor da lei que se aproximou e perguntou-lhe "qual o maior mandamento da Lei?"  Na verdade, o doutor da lei não buscava resposta para algo que ele já conhecia sobejamente; sua intenção era outra, era discutir religião em público, o que, naquela época, era motivo de vanglória e prestígio.

 

     Jesus então conta-lhes uma parábola baseada em fatos reais, e todos os presentes se sentem flagrados. Os personagens da narrativa acham-se ali, no meio deles: era um sacerdote, um levita e um samaritano. O primeiro, figura conceituada, ungido como representante do  povo junto a Javé. O segundo, servidor do templo, ministro do culto. Por fim, quem era o terceiro?  Um intruso, execrável, alvo de ódio e desprezo, por conta de uma longa história de rivalidades entre a Judéia e a Samaria. 

 

        Para a maioria das pessoas ali presentes era um insulto a escolha do samaritano como o personagem

bom e solidário, o único a socorrer o pobre homem caído à beira do caminho. Jesus derruba uma muralha de ódios e preconceitos, que boicotava o mandamento do amor.

 

     A simbologia contida na parábola permite-nos dar-lhe outras configurações. Podemos imaginar Jesus dirigindo-se a nós, moradores de Recife. "Um certo cidadão caminhava pela Av. Agamenon Magalhães quando foi assaltado por marginais que o expoliaram e o jogaram sangrando à margem do asfalto. Aconteceu passar por ali um frade franciscano, dirigindo seu pálio cinza claro, viu aquele homem, compadeceu-se, mas, neste momento, o semáforo acendeu a luz verde e ele seguiu adiante, não podia atrapalhar o trânsito. Logo a seguir passou um pastor protestante, viu-o também, teve compaixão, mas, consultando o relógio, calculou que não daria para chegar em tempo ao culto, onde era seu dever pregar a Palavra de Deus. Foi adiante. Casualmente passou pelo mesmo caminho um morador da favela do Coque. Avistou o companheiro ferido, teve pena, colocou-o dentro da sua carroça de juntar papelão e conduziu-o ao Hospital da Restauração ali próximo. E permaneceu ao seu lado todo tempo, até ver tomadas as  providências indispensáveis.

 

     Como não imaginar a

 raiva surda das elites sociais preconceituosas e de algumas "respeitáveis" denominações religiosas, ouvindo a homilia de um "comunista" disfarçado de Jesus!

 

     Podemos altear mais o nosso vôo imaginário: Jesus discursa perante os representantes dos povos, reunidos na Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque. "Um certo país extremamente pobre do continente africano estava prestes a perder metade da sua população, contaminada pelo coronavirus. Logo o governo dos Estados Unidos prometeu uma ajuda humanitária, precisando antes resolver uns entraves burocráticos e políticos. Não tardou e o governo russo fez a mesma promessa, a ser cumprida logo após ficarem claras as  intenções dos norte-americanos. Porém, no dia seguinte ao grito do S.O.S. aterrissou no aeroporto da capital do país extremamente pobre um avião, trazendo a bordo uma centena de médicos cubanos. Estes apressaram-se em ocupar os hospitais improvisados do país, cuidando dos infectados. E aí permanecem até hoje.

 

     De repente muitos se deram conta de que a parábola do Bom Samaritano começava a converter-se em fatos reais. Notícias que a grande mídia sonega, mas são divulgadas nas redes sociais, confirmam: o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) doou mais de 5 mil toneladas de alimento e um milhão de marmitas no combate à pandemia da fome no Brasil, durante a tragédia da covid19. Além disso, por meio do trabalho de base das campanhas e brigadas  solidárias nas periferias urbanas e rurais contra o avanço da covid e da fome, foram formados mais de 2.000 Agentes Populares de Saúde, que distribuiram 30.000 máscaras de proteção para a população mais vulnerável ..." E mais e mais.

 

       Diz o Evangelho que, ao final da sua narrativa, Jesus perguntou ao doutor da lei: "qual destes agiu como o próximo do homem caído à beira do caminho? - !!! - Pois bem, vá e faça a mesma coisa" Cfr.Lc. 10,25ss

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