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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Baratinar



Por ROBERTA BARROS


     Certa vez, no aeroporto da Bahia, encontrei um dicionário de baihanês, com palavras e expressões comuns na Bahia.


     Vi recentemente em Recife, um livrinho com várias expressões de Pernambuquês, mas o que me chama atenção atualmente é o novo vocabulário trazido pelas crianças, sobretudo aquelas que vivem em favelas. É quase uma nova língua que nos chega fortalecida pelas ondas sonoras das rádios que invadem estes bairros,  utilizando desde simples    bicicletas , a  potentes tuíteres, que  são colocados em vias públicas,  projetos de mini trio elétrico, que cruzam as ruas, nas  madrugadas, lembrando que estamos permanentemente em um carnaval fora de época. 


     Neste novo dialeto, trazido dos finais de semana das visitas aos pais nos presídios, da popularidade do uso das drogas nas comunidades, e da omissão  do poder público neste bairros,  estamos prestes a conversar meio quilo e não entender cem gramas.


     O comunicar chega carregando uma dura realidade, a infância passa rapidamente,  pois da bocas de crianças saem expressões quase proféticas, na verdade relatos de suas  vidas supliciadas.

Nesta nova forma de comunicação, precisamos muitas vezes, descobrir o que significa não a palavra falada, mas sim o sentimento que ela carrega.


     Saber por exemplo, o que significa baratinar é fácil, difícil é entender como ficam quatro crianças, sozinhas, em um pequeno casebre, durante toda a noite, porque a mãe, mais uma vez, saiu para se prostituir e se drogar e novamente  baratinou. 


     Entre dois mundos caminhamos, um dentro de uma modernidade veloz, estrondosa e exuberante, digna de filmes antes chamado de  ficção científica, e outro, que corre a céu aberto, nos canais e favelas que contornam a cidade banhada pelo mar,  fazendo suas ondas beijarem  as areias negras de esgotos e tropeçarem  nos lixões a céu aberto que povoam os rios   Capibaribe e  Beberibe. 

 Roberta Barros é pedagoga e fundadora da CAMM

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