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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Padre João Pubben


por ASSUERO GOMES



Quando jovem, muito jovem ainda, Jesus através de Vicente de Paulo perguntou ao padre   recém ordenado, na Holanda, por três vezes: “João, tu me amas?” – Sim senhor, tu sabes que eu te amo! Por três vezes seguidas ele respondeu calmamente. Em seguida o mesmo Vicente disse: cuida dos meus pobres.

Fazendo o caminho dos mares aportou no Nordeste do Brasil. Aqui em Recife encontrando com o pastor profeta Helder Camara, foi enviado para a comunidade de Dois Unidos, Passarinho e Alto da Esperança, juntamente com a Irmã Priscila. Faz quarenta e cinco anos essa travessia.

Cuidou com afinco e dedicação dos pobres que lhe foram recomendados, deu-lhes escola, formação cristã e humanística. Ensinou-os a dignidade de ser pessoa filho ou filha de Deus. Construiu vidas e vidas interligadas no amor e no serviço fraterno, no respeito às diferenças e na convivência construtiva de fraternidades múltiplas, em serviços e pastorais dessas comunidades.


      Deu testemunho de uma vida pobre entre os pobres, de uma frugalidade extrema e evangélica. Durante longos dezenove anos serviu também ao Dom, assistindo-o diariamente em celebrações e cuidados.

Celebrou continuamente uma única eucaristia mística com seus pobres, com D. Helder e com os que vivem o chão da Igreja das Fronteiras, e continuará celebrando, mesmo em futuro tempo.


     Sofreu e foi feliz, chorou e sorriu, construiu pontes e laços, alguns nós dentre nós. Foi fiel à missão, honrou a túnica e a estola do serviço entre o sofrimento do povo e o silêncio de Deus. Viveu a mística de Vicente e Luísa no limite, às vezes ultrapassando-o, do suportável e dou testemunho de sua dedicação e testemunho na própria pele e pulmões, no coração e ossos.

Como o Dom e como Vicente incomodou estruturas estabelecidas e enraizadas e engessadas.


     Vicente agora retomou-lhe o diálogo:  “João tu me amas?” - Sim tu sabes que eu te amo! Por três vezes a mesma pergunta e a mesma resposta sem hesitação. “Quando tu eras jovem, tu te vestias e ias aonde querias, no entanto é chegada a hora em que vais te vestir e voltarás para de onde vieste”.


     Quarenta e cinco anos de mar profundo no mistério de um Deus que se apresenta na necessidade do pobre e num pedaço de pão, quarenta e cinco anos de dias imersos numa espiritualidade de mãos calejadas e pés cansados, quarenta e cinco anos de navegar ali na poeira da poeira onde os pés dos pobres caminham e sangram... Volta para a Holanda, deixando sua juventude, sua saúde, seu coração, seus amores e amizades, seus admiradores e especialmente sua gente, a qual ensinou a dignidade de ser humano.

Parta com o coração da gente e a sensação de ter feito mais que o impossível por todos nós...

Assuero Gomes é Cristão católico leigo da Arquidiocese de Olinda e Recife

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