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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

De pessoas e de árvores...



Por Assuero Gomes 

      As pessoas são como as árvores. Fazemos parte da teia infinita da Vida que une todos a tudo. Observando algumas plantas e especialmente as árvores nos vamos lembrando de pessoas que passaram por nossas vidas.
     Sejam Flamboyants floridos que roubam a cena e o cenário e encantam por sua exuberância e beleza quase brutal, sejam Eucaliptos que crescem de cabeça erguida e cuja madeira dura vai ser queimada em estalidos gementes, mas que não permitem que nada cresça ao seu redor nem à sua sombra.

     Os Cedros do Líbano são sábios, sóbrios, quase eternos. Longevos. São o sustentáculo de uma nação. Os Bambus, esses caniços, são os que se envergam, os que aguentam as tempestades, que racham, mas não cedem, e quando passa a refrega estão firmes, bailando com o vento.

     O Sândalo, que já foi cantado em prosa e verso e que espalha perfume mesmo sobre que o fere, lembra um pouco a cana-de-açúcar, que mesmo triturada ainda doa o seu mel, como nos ensinava nosso profeta (D. Helder).

     Todas as árvores e todas as pessoas são especiais, algumas, no entanto, são mais especiais ainda, como as Acácias, que derramam ouro em abundância, generosamente e são nobres. Árvores podem ser castas como os Jasmineiros, puras, quase vestais. Outras são pródigas como os Cajueiros, que trazem nos seus frutos toda a subsistência para um faminto, e se mantêm em meio à desolação de um sertão seco, junto ao Umbuzeiro, sertanejos valentes e inquebrantáveis.

     Algumas pessoas são como as Gravioleiras; de aspecto hostil, um tanto rudes à primeira vista, de fruto espinhoso como um coração cheio de farpas, mas que por detrás das cascas e espinhos guardam tanta doçura e carinho que são perdoadas ao primeiro sabor do fruto. Outras são graciosas como as Romãzeiras ou sutis como as Pitangueiras.

     Robustas são as Jaqueiras, imponentes como matriarcas de uma sociedade aristocrática, que fazem companhia às Mangueiras, doces mangueiras! De manhãs e quintais pernambucanos. E o que dizer dos Jambeiros frondosos de minha infância? Há ainda pessoas como eles?

    Há as tristes, melancólicas, que ao cair da tarde choram suas folhas indiferentes aos trinados e gorjeios, indiferentes aos ninhos. São os Chorões. Quanta diferença dos Ipês! Quanta diferença!

     As negras dos engenhos seculares se encantaram em Baobás e ainda estão presentes nos bons fantasmas das nossas histórias infantis e nos acalantos de ninar. São eternas estas negras árvores d´África.

     Mas deixem-me lembrar das Palmeiras. Elegantes, meticulosas, belas e pueris como as sinhazinhas. Presenças no azul do céu de verão com seu delicado arranjo verde à cabeça e brincos de pérolas coloridas, acompanham seus cuidadosos e ciumentos pais, os imperiais.

     Reinam em toda orla os soldados da nova armada romana, como a vigiar e guardar a costa, os Coqueiros. Pessoas são como as árvores. Concretas e etéreas, buscam o firmamento sem querer se desenraizar. Lançam suas sementes em busca do tempo eterno, servem de berço e esquife, servem de lápis e papel, servem de dor e alegria, enfim são humanas.

    O Bonsai, que quer dizer “árvore na bandeja”, é uma arte milenar, originária da China, e difundida atualmente em todo mundo. Consiste em cultivar árvores e arbustos em vasos, tentando reproduzir em miniatura esses nossos irmãos, como se estivessem livres na natureza em todo seu verde esplendor.

    A maior lição de quem cultiva essa arte é o cuidar. O Bonsai traz em si toda a delicadeza e beleza da mãe Terra, com seus requintes e caprichos, seus desejos e segredos mais escondidos. No Bonsai há que se cuidar do solo, das raízes, das folhagens, das florescências quando as houver, do micro clima. No entanto ao cuidar dele na verdade há a descoberta do cuidar de si, do cuidar do outro, da comunidade e do meio ambiente.

     No entanto ao cuidar dele (o Bonsai) na verdade há a descoberta do cuidar de si, do cuidar do outro, da comunidade e do meio ambiente.
Deveria ser matéria obrigatória em todo currículo escolar, especialmente dos alunos e mestres da área de saúde, dos seminaristas e sacerdotes, dos artistas e poetas e especialmente dos economistas e financistas.


      Para se ter êxito no cultivo de um bonsai (há registro de bonsais com mais de 1.200 anos na China e quase isso no Japão, vivos e em plena e serena glória), há que se ter dedicação, paciência, observação acurada, há que se apreciar o silêncio e a introspecção, há que se amar o belo e se desprender de alguns valores da sociedade de consumo.

      Há que aprender com o bonsai a respeitar os limites, a tolerância, o envelhecer, as mudanças de cada estação e seus tempos precisos. Há que se reaprender a pensar no silêncio interior de sua alma e colocar sua alma irmanada aos seres vivos, e reaprender que somos todos interligados, dependentes um do outro, como vários bonsais em uma só bandeja, a Terra.


Cristão católico leigo da arquidiocese de Olinda e Recife

assuerogomes@terra.com.br  

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