por Maria Clara Lucchetti Bingemer
É certamente uma
das mais excitantes boas notícias destes seis meses de novo pontificado o fato
de o Papa receber pessoalmente o teólogo peruano Gustavo Gutierrez, mais
conhecido como o pai fundador da Teologia da Libertação.
Antes disso, já o
prefeito da Congregação para a doutrina da fé, Gerhard Müller, havia deixado
bem patente sua amizade com Gutierrez: uma foto dos dois no lançamento de um
livro de Müller correu o mundo.
Müller foi aluno e
é amigo do pensador peruano desde que, ainda muito jovem, foi a Lima para estar
entre os pobres. Já se pressentia que ventos melhores iriam soprar para essa
teologia nascida na esteira do Concílio, no coração da Pátria Grande
latino-americana e que ultimamente conhecera várias agruras e tempos sombrios.
Já a Conferência de Medellín, em 1968, havia dito que se a Igreja do continente sentia a necessidade imperiosa de realizar mudança de alianças, unindo inseparavelmente evangelização e prática da justiça, e privilegiando os pobres como parceiros primordiais isso implicaria necessariamente em uma nova teologia. E essa teologia deveria partir do chão da realidade atravessada pela injustiça e pela opressão, a fim de elaborar conteúdos que pudessem contribuir para uma transformação da mesma realidade.
Já a Conferência de Medellín, em 1968, havia dito que se a Igreja do continente sentia a necessidade imperiosa de realizar mudança de alianças, unindo inseparavelmente evangelização e prática da justiça, e privilegiando os pobres como parceiros primordiais isso implicaria necessariamente em uma nova teologia. E essa teologia deveria partir do chão da realidade atravessada pela injustiça e pela opressão, a fim de elaborar conteúdos que pudessem contribuir para uma transformação da mesma realidade.
Sobre aquele
acontecimento disse agora Gustavo Gutierrez: “O problema que enfrentávamos não
é sobre como falar de Deus em um mundo adulto, mas como anunciar Deus como um
pai amoroso e justo em um mundo desumano e injusto”.
Na verdade, não se
trata de algo novo. Chamar a atenção para a fato de aqueles que são
desprovidos das benesses da sociedade e excluídos pelo progresso e pelas elites
serem os filhos mais queridos de Deus justamente porque mais necessitados não
foi inventado pela Teologia da Libertação. Remonta, na verdade, a Jesus
de Nazaré que, fiel ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó, por ele chamado
amorosamente de Pai, voltava-se com especial atenção e desvelo para as
categorias de pessoas mais desprezadas da sociedade: o órfã o, a viúva, o
pobre, o estrangeiro.
TdL procura fazer o mesmo. Experimentar
um encontro profundo com o Senhor no rosto do pobre. Por-se à escuta dos
que não têm voz para ouvir e responder a seus desejos mais profundos e
autênticos. Colocar-se a serviço de sua libertação, denunciando quem
afirma que a pobreza e exclusão são vontade de Deus e não fruto podre do pecado
humano, pessoal e estrutural.
A TdL ganhou corpo e força nos anos 1970 e 1980. Apesar de muito combatida mesmo por segmentos importantes da Igreja, não abriu mão de seus princípios norteadores e permaneceu firme na fidelidade a seus propósitos. Ganhou credibilidade e confiança, e quando indagavam se pretendia formar uma Igreja paralela, sempre reafirmou sua convicção de ser uma teologia eclesial, elaborada dentro da Igreja e não apenas na academia ou nas tribunas sociais de todos os tipos. Apesar de inspirar e reforçar compromissos políticos, seu referencial era a Igreja e nenhuma outra instância. Dentro dessa Igreja produziu, deu abundantes frutos, revitalizou todo o pensar teológico, dando-lhe nova perspectiva.
A TdL ganhou corpo e força nos anos 1970 e 1980. Apesar de muito combatida mesmo por segmentos importantes da Igreja, não abriu mão de seus princípios norteadores e permaneceu firme na fidelidade a seus propósitos. Ganhou credibilidade e confiança, e quando indagavam se pretendia formar uma Igreja paralela, sempre reafirmou sua convicção de ser uma teologia eclesial, elaborada dentro da Igreja e não apenas na academia ou nas tribunas sociais de todos os tipos. Apesar de inspirar e reforçar compromissos políticos, seu referencial era a Igreja e nenhuma outra instância. Dentro dessa Igreja produziu, deu abundantes frutos, revitalizou todo o pensar teológico, dando-lhe nova perspectiva.
Talvez por isso
mesmo tenha sido tão doloroso para esta teologia e seus representantes haverem
sido pouco compreendidos por certos setores eclesiais e até mesmo
marginalizados por boa parte deles. Homens como Gustavo Gutierrez e
outros de igual quilate foram olhados com suspeita e desconfiança, sendo seu
trabalho mal entendido e mal avaliado.
É belo ver agora a
re-inclusão desta teologia dentro do conjunto do pensamento da Igreja que
sempre amou e a quem sempre quis fielmente servir. O encontro do Papa com
Gustavo Gutierrez é um sinal poderoso de que novos tempos começam não só para
essa teologia, mas para todo o pensar teológico. Pois se é verdade que a
teologia é uma reflexão que só pode ser feita dentro da comunidade eclesial,
como fazê-la sem liberdade? Como levá-la adiante em um ambiente de
suspeita e desconfiança, sem a liberdade característica do Espírito do Senhor
que sopra como o vento e renova a face da terra?
A boa notícia do encontro entre o Papa e o teólogo enche os corações de esperança. Para todos nós que entregamos a vida a serviço da teologia entendida como vocação e missão, o ar puro penetra nos pulmões e nos diz que a esperança não decepciona.
Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e teóloga. É autora de “Crônicas de cá e de lá” (editora Subiaco), que pode ser encomendado diretamente à escritora pelo e-mail – agape@puc-rio.br – R$ 20,00
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização da autora
A boa notícia do encontro entre o Papa e o teólogo enche os corações de esperança. Para todos nós que entregamos a vida a serviço da teologia entendida como vocação e missão, o ar puro penetra nos pulmões e nos diz que a esperança não decepciona.
Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e teóloga. É autora de “Crônicas de cá e de lá” (editora Subiaco), que pode ser encomendado diretamente à escritora pelo e-mail – agape@puc-rio.br – R$ 20,00
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização da autora
Nenhum comentário:
Postar um comentário