Por Marcelo Barros
“Juventude que ousa lutar constrói o
projeto popular!” é o lema do 19º Grito dos Excluídos que, no 07 de setembro, acontecerá
em todo o Brasil. Para as mobilizações, manifestações de rua e atividades que
acontecerão, o Grito convoca especialmente a juventude, categoria social que
mais sofre as consequências da sociedade excludente em que vivemos. As
estatísticas mostram que, no Brasil de hoje, a juventude é a categoria social
mais frágil do ponto de vista das perspectivas de vida e aquela a qual mais se
cobram iniciativas.
Quando me encontro com jovens, sempre me
pergunto que possibilidades de vida digna e justa a sociedade oferece à
juventude. Se falamos de trabalho, 3, 7 milhões de jovens brasileiros não têm
emprego fixo, o que representa 47% do total de desempregados do país. Em todo o
Brasil, muitos jovens vivem situações de subemprego, realizam biscates, sem
nenhuma segurança. Muitos rapazes e moças vivem em situação de exclusão social,
com pouco acesso ou até nenhum aos bens culturais, sociais e as mínimas
condições para uma vida digna. Além do mais a juventude é a maior vítima da prostituição,
do tráfico e uso de drogas e da violência urbana.
Sem dúvida, o Brasil avançou socialmente
nos últimos dez anos. Entretanto, até aqui, mesmo governantes eleitos para
transformar as estruturas e governar para todos os brasileiros acabam concedendo
à maioria da população apenas as migalhas que sobram das mesas dos patrões,
como são os programas emergenciais de bolsa família, segurança alimentar,
auxilio moradia e outros. Enquanto isso, o filé mignon da economia continua a
serviço dos interesses de uma elite minoritária cada vez mais rica. Os
banqueiros chegam a ter lucros de 400% ao ano, enquanto a Câmara e o governo
trabalham meses e meses para definir o aumento mínimo possível a ser permitido ao
salário dos trabalhadores.
Recentemente, diante da insatisfação de
milhões de pessoas que foram às ruas para protestar contra os excessivos gastos
com a Copa e a falta de investimento em educação, saúde e transporte urbano,
a presidente da República prometeu
dialogar com os movimentos populares e propôs a organização de um plebiscito
para a reforma política e para uma nova Constituinte. No dia seguinte, voltou
atrás. Agora, todo esse projeto está reduzido a um referendo controlado pelo
interesse dos mais conservadores.
Cada vez mais, os movimentos sociais veem
claro: sem mudança profunda na própria estrutura do Estado, não haverá
transformações substanciais da sociedade e não se terá justiça nas cidades e no
campo. Nesse ano, o 19º Grito dos Excluídos ocorre nessa delicada conjuntura
nacional. Ele convoca as organizações de articulação da juventude e da
sociedade em geral a se juntarem para lutar pacificamente pela construção de um
projeto popular. Ao descrever mais concretamente essa meta, o Grito evoca o
direito de todas as pessoas ao acesso a políticas públicas de qualidade,
propõe-se a exigir mais recursos públicos para os direitos sociais; lutar por
justiça social e ambiental e defender os bens comuns (água, terra, minérios,
sementes, etc). O Grito considera urgente denunciar as formas de organização e
exploração do capital que se mostram com novas roupagens, nos megaprojetos
(hidroelétricas, portos, rodovias, arenas) e nos megaeventos como Copa do Mundo
e Olimpíadas. Quer ainda construir espaços de unidade dos movimentos do campo e
da cidade e garantir a importância de cada um dentro da organização e da luta
popular.
São objetivos amplos e exigentes.
Entretanto, o fato de nos comprometermos com eles nos faz de nós o que o
evangelho chama de “construtores/as da paz”. Jesus proclama abençoadas por Deus
e felizes todas as pessoas que têm fome e sede de justiça. E promete que
herdarão no mundo o reinado divino, no qual “a justiça e a paz correrão pela
terra como um rio a saciar nossa sede e nos aliviar a vida” (Cf. Is 65).
Marcelo Barros ,
monge beneditino, teólogo e
escritor. Tem 44 livros publicados.
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