Por Rejane Menezes
Sou uma pessoa que adora música. Não todo tipo de música. Confesso
que, na verdade, sou até meio chata quando se trata de gênero musical. Gosto de
Rock, Heavy Metal, MPB e música clássica. A música me entusiasma, me comove, me
enternece e traz lembranças.
Para cada tipo de música há o volume certo para ouvir. Normalmente
não gosto de nada muito alto. A não ser, claro Rock. Mas nunca alto o
suficiente para incomodar os outros. Isso, jamais.
E me parece que esse é um procedimento comum a quem ouve o
tipo de música que gosto. Por que precisa ser alto a ponto de distorcer?
Pois é, ainda esta semana estávamos na rua e ouvimos um som
extremamente alto vindo de um carro. E, como é comum, de música da pior
qualidade. E eu comentei por que quando a gente ouve um som muito alto é sempre
de música de gosto duvidoso?
Alguém já ouviu um som muito alto, de algum carro ou do
vizinho que esteja tocando Chopin, Chico Buarque ou Beatles? Eu nunca. No
prédio vizinho, o pessoal é chegado a festas com música ao vivo. E aí, a
tortura auditiva é acrescida de som alto, distorcido e gente cantando mal.
Daí alguém pode estar pensando: ”gosto não se discute”, “o
que é bom para você ouvir necessariamente não é o bom para as outras pessoas” e
por aí vai. Mas, segundo um maravilhoso professor de história que tive na
faculdade, Prof. Ormindo, “mau gosto existe e gosto se discute sim”. E eu
concordo com ele. Eu acho que a educação musical deveria voltar a fazer parte
do currículo escolar. Assim as crianças e adolescentes teriam a oportunidade de
conhecer a boa música e, se depois disso escolhesse o lado negro da força e seu
gosto musical se deteriorasse, só teríamos a lamentar a sua opção. Mas, pelo
menos poderíamos ter a esperança de que, através da educação musical, diminuísse
a quantidade de coisas horríveis que tem na música e que faz sucesso.
Algumas outras pessoas podem até achar esnobe ou pretenciosa
a minha conduta em relação a gosto musical. Recebi críticas quanto ao gosto das
minhas filhas que, quando crianças, curtiam as músicas da Arca de Noé e Casa de
Brinquedo, em lugar da porcariada da época.
Por exemplo, se eu fizesse parte da organização do Rock in
Rio, só permitira que se apresentassem bandas de Rock, em suas múltiplas
variedades. Mas, infelizmente não é assim.
Tem tanta coisa ruim fazendo sucesso na música brasileira
que eu às vezes penso que o pessoal faz aposta do tipo: vou criar uma música
terrível e que vai ser o maior sucesso. Porque tem um bocado de coisa por aí
que tenho certeza de que nem quem canta gosta.
Mas enfim, infelizmente é isso o que temos hoje. Mas isso
não me impede de sonhar com o dia em que no Brasil surgirá uma nova onda
musical, como a MPB, que vai fazer o maior sucesso e tudo que não for música de
verdade deixará de ser tocada.
Às vezes sou vista como ET, por não conhecer algum sucesso
meteórico/obsceno que está nas paradas. Mas, pra falar a verdade isso não me
preocupa. O que me preocupa mesmo é não conseguir entender porque música ruim
faz tanto sucesso.
Enquanto isso aproveito o silêncio do colégio e do prédio
vizinho e vou ouvir a minha musiquinha, em um volume que não perturbe os outros,
com a certeza de que não precisarei ser levada ao hospital, vítima de exaustão auditiva.
Rejane Menezes é jornalista.
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