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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

CAROS AMIGOS




Por Jussara Rocha Kouryh

  

     Permitam o meu livre pensar, sem querer, em nenhum momento, criar qualquer tipo de discussão, desavença ou coisa parecida. 


     Quem me conhece sabe que não sou cientista política nem filiada a nenhum partido. Sou apenas uma inquieta cidadã em busca do bem coletivo.


     Quem me conhece sabe, também, de meu compromisso pessoal com as causas sociais. Esse compromisso está explícito em tudo o que faço, nas minhas escolhas profissionais, nas minhas produções literárias e musicais, nas conversas entre amigos, e assim por diante. Esse compromisso não inclui (nunca incluiu) benesses pessoais. Esse compromisso também perpassa pelo respeito a todos e a todas, com suas posições políticas convergentes ou divergentes, com suas escolhas singulares em todos os níveis... É em nome desses compromisso e respeito que estou escrevendo esse texto.


     Por décadas sonhei um Norte e Nordeste inseridos verdadeiramente no mapa do Brasil. Somente a partir do ano 2002, com a virada do século e do milênio, esse sonho começou a se tornar realidade. É um recorte histórico que não posso negar, independente de tendências. Foi a partir de Lula que o Governo Federal passou a nos tratar como brasileiros efetivamente, com os mesmos direitos que as outras regiões do país sempre tiveram. E quando o então governador Eduardo Campos rompeu com esse mesmo Governo Federal, já sob a responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff, o nosso estado pernambucano não sofreu retaliações. Continuou a ser parte deste imenso Brasil. O que não aconteceu em outros tempos, por exemplo, quando do último mandato de Miguel Arraes.


     Também era sonho meu, aluna que fui da rede pública de ensino, ver os meus pares com direito à academia, com a possibilidade de frequentarem as universidades e se prepararem para escrever uma outra história, aquela história de inclusão social começada pelo Quilombo dos Palmares, ainda no século XVII. E vi o ENEM, com todos os ajustes que precisa ter, abrir as portas do conhecimento para todos, sobretudo para os menos privilegiados economicamente. E vi o PROUNI abrindo bolsas integrais ou parciais (50%) em instituições privadas de ensino superior para formação específica a estudantes brasileiros que, entre outras coisas, tenham cursado o ensino médio na escola pública, além da inclusão daqueles que possuem necessidades especiais. E vi a interiorização das universidades federais (18 foram construídas) e as 370 escolas técnicas também construídas, como primeiro passo para a formação de mão-de-obra especializada. 


     Quantas vezes me rebelei contra a indústria da seca e participei de lutas para se escrever outra história também ali! E vejo, andando por nossos sertões, a proliferação de cisternas. Quem não é do Nordeste jamais compreenderá sua dimensão libertária. Sim, porque essas inúmeras cisternas construídas representam, entre outras coisas, um primeiro grande passo para o fim do voto do carro-pipa.


     E a agricultura familiar?! Quem nasceu e viveu em terras mergulhadas na monocultura e no latifúndio, sabe o valor que tem um pedaço de chão diversificando a produção, e uma produção qualitativa: sem agrotóxicos, sem queimadas.


     E a casa própria?! O Programa Minha Casa, Minha Vida contempla aquele percentual da nossa população (famílias com uma renda de até três salários mínimos) que, sem um programa federal dessa ordem, jamais teria acesso a uma moradia própria.


     Falam-me mal do Bolsa Família. Dizem que é um programa para alimentar a preguiça do brasileiro. 


     O Programa que foi criado para as famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, aponta para uma primeira e efetiva experiência de distribuição de renda. Sua execução é de responsabilidade das prefeituras. Portanto, se existem desvios, distorções, precisamos exigir de nossos gestores municipais que o Programa cumpra seu papel social. O fato inconteste é que esse Programa tirou da miséria absoluta mais de 30 milhões de irmãos meus.

E por falar no Bolsa Família, como todos os outros programas sociais do Governo Federal, são condicionantes, ou seja, existem critérios bem definidos e contrapartidas delineadas.


     E não terminaria mais de elencar as nossas conquistas sociais desses últimos 12 anos: o Programa Mais Médico, que oferece profissionais da área da saúde para os longínquos rincões onde ninguém queria ir para não abrir mão das comodidades e rendimentos complementares que as cidades grandes oferecem, e que já atendeu cerca de 50 milhões de brasileiros, reduzindo em 20% o número de internações hospitalares; o Luz Para Todos; Água Para Todos; Ciências Sem Fronteiras; o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que melhorou o IDEB em muitas cidades; a inclusão do estudo da história de África e de nossos indígenas no currículo escolar, dignificando nossas raízes e enriquecendo nossa brasilidade; o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e sua implementação nos cursos de Licenciatura, permitindo que muitos surdos se tornassem professores de Universidades públicas, essa dentre tantas outras políticas de inclusão social...


     São ganhos efetivos e reais que não posso negar. Sempre quis todos eles e mais, muito mais para meu povo.


    Quando do mensalão, escrevi à época:“Lamento profundamente por aqueles que não se mantiveram coerentes com as próprias palavras, que promoveram uma dicotomia entre o discurso e a ação, que usaram os mesmos maléficos expedientes tão duramente condenados. Vocês não me traíram. Vocês se traíram. 


     Vocês não anularam as minhas esperanças. Vocês deixaram de participar delas. Vocês não destruíram minha fé e minha crença nas pessoas. Vocês deixaram de se comportar como gente. Vocês perderam o rumo da história. Mas ela, a minha história e a história de meu povo, continuará em direção a um novo tempo”.


      Nunca, na história do país, havia lido ou visto o Supremo Tribunal julgar e condenar políticos do primeiro escalão e empresários ricos. Pensei que seria da mesma forma, que tudo iria para debaixo do tapete. Não foi o que aconteceu. Foram julgados e condenados. Eis mais uma conquista. Se a pena foi branda em relação ao meu anseio e ao anseio popular, constato que ela seguiu o que determina a legislação brasileira. E aqui fico me perguntando: quais os meus critérios para eleger nossos legisladores? 


     Não quero abrir mão dessas conquistas. Quero que sejam consolidadas, alargadas...


 Não quero contribuir para que o fundamentalismo se estabeleça no meu país.

Por amor a meu povo, por amor a meu Brasil,


07 de setembro de 2014 


                                          Jussara Rocha Kouryh
Jornalista e escritora, autora da coleção "Conceitos sem Preconceitos", estará lançando um novo livro: "ACÁCIAS"




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