Por Jussara
Rocha Kouryh
Permitam o meu
livre pensar, sem querer, em nenhum momento, criar qualquer tipo de discussão,
desavença ou coisa parecida.
Quem me
conhece sabe que não sou cientista política nem filiada a nenhum partido. Sou
apenas uma inquieta cidadã em busca do bem coletivo.
Quem me
conhece sabe, também, de meu compromisso pessoal com as causas sociais. Esse compromisso
está explícito em tudo o que faço, nas minhas escolhas profissionais, nas
minhas produções literárias e musicais, nas conversas entre amigos, e assim por
diante. Esse compromisso não inclui (nunca incluiu) benesses pessoais. Esse
compromisso também perpassa pelo respeito a todos e a todas, com suas posições
políticas convergentes ou divergentes, com suas escolhas singulares em todos os
níveis... É em nome desses compromisso e respeito que estou escrevendo esse
texto.
Por décadas
sonhei um Norte e Nordeste inseridos verdadeiramente no mapa do Brasil. Somente
a partir do ano 2002, com a virada do século e do milênio, esse sonho começou a
se tornar realidade. É um recorte histórico que não posso negar, independente
de tendências. Foi a partir de Lula que o Governo Federal passou a nos tratar
como brasileiros efetivamente, com os mesmos direitos que as outras regiões do
país sempre tiveram. E quando o então governador Eduardo Campos rompeu com esse
mesmo Governo Federal, já sob a responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff,
o nosso estado pernambucano não sofreu retaliações. Continuou a ser parte deste
imenso Brasil. O que não aconteceu em outros tempos, por exemplo, quando do
último mandato de Miguel Arraes.
Também era
sonho meu, aluna que fui da rede pública de ensino, ver os meus pares com
direito à academia, com a possibilidade de frequentarem as universidades e se
prepararem para escrever uma outra história, aquela história de inclusão social
começada pelo Quilombo dos Palmares, ainda no século XVII. E vi o ENEM, com
todos os ajustes que precisa ter, abrir as portas do conhecimento para todos,
sobretudo para os menos privilegiados economicamente. E vi o PROUNI abrindo
bolsas integrais ou parciais (50%) em instituições privadas de ensino superior
para formação específica a estudantes brasileiros que, entre outras coisas,
tenham cursado o ensino médio na escola pública, além da inclusão daqueles que
possuem necessidades especiais. E vi a interiorização das universidades
federais (18 foram construídas) e as 370 escolas técnicas também construídas,
como primeiro passo para a formação de mão-de-obra especializada.
Quantas vezes
me rebelei contra a indústria da seca e participei de lutas para se escrever
outra história também ali! E vejo, andando por nossos sertões, a proliferação
de cisternas. Quem não é do Nordeste jamais compreenderá sua dimensão
libertária. Sim, porque essas inúmeras cisternas construídas representam, entre
outras coisas, um primeiro grande passo para o fim do voto do carro-pipa.
E a
agricultura familiar?! Quem nasceu e viveu em terras mergulhadas na monocultura
e no latifúndio, sabe o valor que tem um pedaço de chão diversificando a
produção, e uma produção qualitativa: sem agrotóxicos, sem queimadas.
E a casa
própria?! O Programa Minha Casa, Minha Vida contempla aquele percentual da
nossa população (famílias com uma renda de até três salários mínimos) que, sem
um programa federal dessa ordem, jamais teria acesso a uma moradia própria.
Falam-me mal
do Bolsa Família. Dizem que é um programa para alimentar a preguiça do
brasileiro.
O Programa que
foi criado para as famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza,
aponta para uma primeira e efetiva experiência de distribuição de renda. Sua
execução é de responsabilidade das prefeituras. Portanto, se existem desvios,
distorções, precisamos exigir de nossos gestores municipais que o Programa
cumpra seu papel social. O fato inconteste é que esse Programa tirou da miséria
absoluta mais de 30 milhões de irmãos meus.
E por falar no
Bolsa Família, como todos os outros programas sociais do Governo Federal, são condicionantes,
ou seja, existem critérios bem definidos e contrapartidas delineadas.
E não
terminaria mais de elencar as nossas conquistas sociais desses últimos 12 anos:
o Programa Mais Médico, que oferece profissionais da área da saúde para os
longínquos rincões onde ninguém queria ir para não abrir mão das comodidades e
rendimentos complementares que as cidades grandes oferecem, e que já atendeu
cerca de 50 milhões de brasileiros, reduzindo em 20% o número de internações
hospitalares; o Luz Para Todos; Água Para Todos; Ciências Sem Fronteiras; o
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que melhorou o IDEB em muitas
cidades; a inclusão do estudo da história de África e de nossos indígenas no
currículo escolar, dignificando nossas raízes e enriquecendo nossa brasilidade;
o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e sua implementação nos cursos
de Licenciatura, permitindo que muitos surdos se tornassem professores de
Universidades públicas, essa dentre tantas outras políticas de inclusão
social...
São ganhos
efetivos e reais que não posso negar. Sempre quis todos eles e mais, muito mais
para meu povo.
Quando do
mensalão, escrevi à época:“Lamento profundamente por aqueles que não se
mantiveram coerentes com as próprias palavras, que promoveram uma dicotomia
entre o discurso e a ação, que usaram os mesmos maléficos expedientes tão
duramente condenados. Vocês não me traíram. Vocês se traíram.
Vocês não
anularam as minhas esperanças. Vocês deixaram de participar delas. Vocês não destruíram
minha fé e minha crença nas pessoas. Vocês deixaram de se comportar como gente.
Vocês perderam o rumo da história. Mas ela, a minha história e a história de
meu povo, continuará em direção a um novo tempo”.
Nunca, na
história do país, havia lido ou visto o Supremo Tribunal julgar e condenar
políticos do primeiro escalão e empresários ricos. Pensei que seria da mesma
forma, que tudo iria para debaixo do tapete. Não foi o que aconteceu. Foram
julgados e condenados. Eis mais uma conquista. Se a pena foi branda em relação
ao meu anseio e ao anseio popular, constato que ela seguiu o que determina a
legislação brasileira. E aqui fico me perguntando: quais os meus critérios para
eleger nossos legisladores?
Não quero
abrir mão dessas conquistas. Quero que sejam consolidadas, alargadas...
Não quero
contribuir para que o fundamentalismo se estabeleça no meu país.
Por amor a meu
povo, por amor a meu Brasil,
07 de setembro
de 2014
Jussara Rocha
Kouryh
Jornalista e escritora, autora da coleção "Conceitos sem Preconceitos", estará lançando um novo livro: "ACÁCIAS"
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