Frei Betto
O
diagnóstico da ONU sobre a “saúde” do mundo se chama IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano. Divulgado a 24 de julho, abarca 187 países. O Brasil
ficou em 79º lugar. Melhorou, mas ainda anda mal das pernas.
Na
América Latina, quatro países ocupam melhor posição que o Brasil: Chile (41º),
Cuba (44º), Argentina (49º) e Venezuela (67º). E não dá para acusar a ONU de
esquerdista...
No
mundo, os cinco melhores colocados são, pela ordem: Noruega, Austrália, Suíça,
Holanda e EUA.
O
diagnóstico reconhece que o Brasil avançou em quase todos os quesitos, mas
tropeçou na educação. E aplaude o Bolsa Família, o aumento de consumo das
classes de baixa renda, o avanço do emprego e a redução das disparidades
raciais graças ao sistema de cotas nas universidades.
O
governo federal não gostou do que ouviu. Alega que a saúde do Brasil está bem
melhor. Mereceria o 67º lugar, empatado com a Venezuela. A ONU é que teria se
baseado em dados ultrapassados.
O
IDH tem por objetivo indicar o calcanhar de Aquiles, os pontos vulneráveis de
cada país, de modo a evitar retrocessos sociais.
Nós, brasileiros, segundo a ONU, temos 7,2 anos de escolaridade. O governo diz
que são 7,6. Ainda assim é pouco, considerando que no Chile e na Argentina a
frequência à escola é de 9,8 anos e, em Cuba, 10,2, o melhor índice da América
Latina.
Nossa expectativa de vida é de 73,9 anos. Para o governo, 74,8 anos. Na década
de 1980, não passava de 64 anos. Esse prolongamento de vida se deve à redução
da mortalidade infantil, às políticas de direitos sexuais e reprodutivos, à
ampliação do atendimento de emergência em hospitais e ao Programa Mais Médicos,
que atua sobretudo na prevenção.
Se
o balanço da ONU considerasse a desigualdade social, o Brasil figuraria na 95ª
posição. Embora este fosso tenha diminuído na última década, aqui os 10%
mais ricos detêm 42% da renda. E 1% destes possui renda 87 vezes superior à dos
10% mais pobres.
A
ONU alerta que dos 7 bilhões de habitantes da Terra, 2,2 bilhões vivem na
pobreza, dos quais 1,2 bilhão sobrevivem na miséria, com renda mensal de, no
máximo, R$ 80. No Brasil, 6 milhões de pessoas são muito pobres.
O
nó que ainda impede o nosso país de avançar no placar da ONU é a educação.
Embora quase todas as crianças cursem o ensino fundamental, faltam creches e é
grande a evasão no ensino médio. A escola particular é cara e a pública, de má
qualidade, com professores que trabalham muito e ganham pouco. E o que esperar de
um aluno que fica apenas quatro horas por dia na escola? Ensino básico de
qualidade só se consegue com tempo integral.
Como cada um de nós pode ajudar o Brasil a melhorar seu IDH? Temos em mãos uma
boa ferramenta para isso: o voto, dia 5 de outubro. São as políticas sociais
adotadas pelo governo que fazem um país melhorar ou piorar. E o governo é
integrado por homens e mulheres eleitos pelo nosso voto.
Frei Betto é escritor, autor da
obra infantil “Começo, meio e fim” (Rocco), entre outros livros
http://www.freibetto.org/>
twitter:@freibetto.
Você acaba de ler este artigo de
Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele - em português,
espanhol ou inglês - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário