Por
Marcelo Barros
“Ocupar
praças e ruas por liberdade de direitos” é o tema do 20o Grito dos
Excluídos, a ser realizado no próximo domingo, 07 de setembro, dia da Pátria, em
todas as capitais e muitas cidades do Brasil. Esse momento celebrativo encerra
uma série de reuniões, eventos e mobilizações que ocorreram durante todo o ano.
O objetivo é manter as comunidades e movimentos sociais unidos na caminhada em
defesa dos seus direitos de cidadania. De fato, “ocupar praças e ruas por
liberdade de direitos” é um modo de fazer avançar no Brasil a democracia
participativa e direta, na qual todos os cidadãos são protagonistas, sem diminuir
a importância da democracia parlamentar e representativa.
Atualmente,
em plena campanha eleitoral, é importante termos critérios justos para eleger
nossos representantes, no poder executivo e também nos diversos níveis do
legislativo. No entanto, queremos que eles nos representem e não nos substituam.
Por isso, durante essa Semana da Pátria, todos os/as brasileiros/as, de alguma
forma, ligados/as aos movimentos sociais, estão votando no Plebiscito Popular
que pede uma Constituinte exclusiva e soberana para a Reforma Política. Em
pesquisa recente, a maioria do povo brasileiro já se expressou favorável a uma
reforma política no sistema parlamentar brasileiro. Agora, se trata de votar no
Plebiscito Popular que pede a eleição de uma Constituinte exclusiva e soberana para
fazer essa reforma. A consulta popular, efetuada em todo o país, durante essa
semana, foi preparada por uma ampla discussão democrática e contribuiu muito
para formar uma mais profunda consciência de cidadania em todo o nosso povo.
Nas
cidades gregas antigas, a Ágora era a praça da cidade ou o pátio, onde se
realizavam as discussões públicas. Ali, os cidadãos tomavam as decisões sobre o
rumo a seguir para toda a cidade. Na cultura do antigo Oriente Médio e no
Israel bíblico, as cidades eram rodeadas de muros. Na porta principal de entrada,
havia um pátio onde se reuniam os cidadãos para os julgamentos de pessoas
aprisionadas ou suspeitas de crimes. Também ali se tomavam as decisões de paz ou
de guerra em relação a cidades vizinhas. O problema era que, naquele mundo, só
eram considerados cidadãos os homens adultos, casados e proprietários de terra.
Mulheres, adolescentes e crianças, além de estrangeiros e lavradores sem terra
não eram cidadãos e não tinham direitos constitucionais. Não participavam da ekklesia, assembleia dos cidadãos.
Foi
justamente esse nome (ekklesia) que,
nos meados do século I de nossa era, Paulo de Tarso tomou do mundo grego para
denominar as comunidades de discípulos e discípulas de Jesus. A partir de
então, essas comunidades de periferia urbana que não faziam parte das
assembleias do Império, passaram a se constituir como “assembleias de Jesus
Cristo” ou Igrejas, nome que a História guardou para designar as comunidades cristãs. Nos primeiros séculos, o termo Igreja
designava principalmente as assembleias locais de cristãos/ãs reunidos/as como
comunidades fraternas. O termo que mais caracterizava a vida dos cristãos/ãs era
a participação plena na comunidade. (Em grego, o termo koinonia (participação), em
nossa linguagem habitual, se traduz por “comunhão”. Atualmente, por motivos
históricos e culturais, a maioria das Igrejas cristãs mantém um caráter
hierárquico que recorda mais as monarquias medievais do que a profecia de um
mundo novo que queremos construir. No entanto, se a Igreja é sinal do amor
divino no mundo, deveria ser sempre uma espécie de ensaio, ou modelo de
organização fraterna que se poderia propor para o mundo todo. Às vezes, uma
leitura fundamentalista de alguns textos bíblicos faz alguns pastores afirmarem
que a Igreja não deve ser uma democracia. Ao ouvir isso, o bispo Dom Pedro
Casaldáliga sempre responde: “De fato, a Igreja não pode ser uma simples
democracia. Tem de ir muito além disso. Deve ser uma comunhão”. É esse
exercício concreto de participação que os movimentos sociais ensaiam no Grito
dos Excluídos e que somos todos chamados a viver ao votarmos no Plebiscito
popular que pede uma Constituinte exclusiva e soberana para a Reforma Política
do sistema brasileiro.
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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