Por Marcelo Barros
Nesses dias, na região amazônica, foram
descobertos sinais de grupos indígenas desconhecidos, ainda isolados. No
Brasil, quem sabe a realidade em que vivem os índios, de alguma forma,
inseridos em nossa sociedade, percebe que o Estado brasileiro continua tão ou mais
colonialista e conquistador do que foram os europeus do século XVI e os
desbravadores do Oeste americano no século XIX.
Essa triste constatação deveria nos fazer
aprofundar mais a vocação humana para a diversidade. Vivemos imersos em um
mundo de diversidades. Saltam aos nossos olhos, as diversidades religiosas,
culturais, biológicas, sexuais, artísticas e outras. Até no modo de ser de Deus,
as tradições espirituais encontram diversidade. A sabedoria chinesa fala de Yin
e Yang. O Candomblé crê em Olorum, Deus único, mas que se expressa na
diversidade dos Orixás. O Cristianismo diz que Deus é, ao mesmo tempo, uno e
trino.
A diversidade é a característica básica de
todas as formas de vida, assim como das manifestações de cultura na Terra.
Recentemente, os estudiosos perceberam que existe uma profunda relação entre
diversidade biológica e diversidade cultural. Onde a diversidade biológica é
mais preservada e respeitada, também permanece mais viva e expressiva a
diversidade cultural. Do mesmo modo, nos lugares onde aparece mais diversidade cultural, se encontra uma
diversidade biológica mais intacta. Tanto as comunidades culturais, como as
espécies biológicas necessitam, cada uma, de um ecossistema para se desenvolverem.
Quando o ecossistema é destruído, as espécies que dependem daquele santuário
ecológico desaparecem e as culturas que ali convivem não podem sobreviver. Isso
é verificado a cada momento na Amazônia e em todos os biomas do mundo. No
próprio universo sideral, encontramos unidade e diversidade. Nos observatórios
espaciais, as pesquisas mais recentes falam de mais de 700 milhões de
constelações e mundos inteiros que nem podemos imaginar. O que chama mais a
atenção dos cientistas é de um lado a imensa diversidade e do outro uma
articulação inteligente que une essa diversidade.
No planeta Terra, até agora, foram identificadas
cerca de um milhão e setecentas mil espécies vivas. Do lado cultural, atualmente,
no mundo existem perto de 6500 idiomas ainda falados. Entretanto, 95 % da população mundial se concentra em
menos de 300 línguas. E muitos idiomas locais estão desaparecendo.... Há quem
diga que, em algum lugar do mundo, a cada semana, um idioma deixa de ser
falado. Nenhum país fala uma língua única, mas a maioria tem um só idioma oficial.
Basta pensar no Brasil. Aqui existem quase 200 línguas ainda faladas, mas só o
português é oficial. Então, muita gente pensa que todos os habitantes do Brasil
só falam português. Isso significa que, no Brasil, quem não fala português, se
sente marginalizado. Não participa da sociedade oficial e não tem direitos
reconhecidos. Este problema do respeito à diversidade foi agravado pelo estilo
de globalização que vivemos atualmente.
Uma das mais importantes marcas do mundo
atual é a globalização das atividades econômicas. Cada vez mais as organizações
transacionais são numerosas e operam em mercados nacionais e regionais, sempre mais
abertos e integrados. Como o mercado exige internacionalização das relações
culturais, somos desafiados a um diálogo das culturas. Comumente, cada cultura
é uma visão global da vida e da relação dos seres humanos com o ambiente que os
rodeia. Por isso, toda cultura tem a tendência de se ver como sendo completa e
central. A globalização econômica impõe a dominação de uma cultura sobre as
outras. A música norte-americana, o cinema de Hollywood e a arte pop se autodenominam
como internacionais. A informática nos obriga a conviver com o idioma criado
pela Microsoft e pela Apple.
Em algumas cidades brasileiras, na
preparação para a Copa do Mundo, para exercerem a sua profissão na própria
cidade em que nasceram, os motoristas de taxi foram pressionados a estudar
inglês. Nesse contexto, ainda é mais importante valorizar a diversidade das
culturas e o direito de cada grupo tradicional e cada povo manterem sua própria
cultura e identidade. Temos o dever ético de construir uma sociedade nova na
qual os grupos indígenas até aqui isolados possam entrar em contato e dialogar
sem precisar pertencer e ser incorporados como súditos menores e dependentes.
As tradições espirituais antigas podem nos ajudar nesse caminho de humanização.
Aos antigos cristãos, o apóstolo Paulo escreveu: “Deus escolheu os pequenos,
que, aos olhos do mundo não têm nenhuma importância, para revelar os seus
segredos e para confundir os que se sentem fortes e importantes” (1 Cor 1, 26
ss).
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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