Por Marcelo Barros
Como a ONU instituiu o 08 de
setembro como dia internacional da alfabetização, toda a semana passada foi
consagrada à educação e a busca de novos meios para erradicar o analfabetismo.
Conforme os mais recentes dados do IBGE, no Brasil atual, ainda existem 13
milhões de brasileiros/as de mais de quinze anos que são analfabetos. Além
deles, existem os chamados “analfabetos funcionais” que, apesar de saberem ler,
não se apropriaram ainda do direito de compreender o que leem, escrever o
quiserem e ter sua voz e vez na sociedade. Todo esse assunto nos faz recordar o
imenso legado de Paulo Freire, com o seu
método revolucionário de alfabetização de adultos e suas propostas novas de
educação. Conforme esse grande educador, a educação é o processo que nos torna
mais humanos. Alfabetizar não é apenas ensinar o ABC, mas possibilitar a todas
as pessoas a participação cidadã na sociedade.
De fato, nascemos todos
autocentrados. Estamos todos permanentemente sujeitos às influências nocivas
que satisfazem o nosso ego e tendem a nos imobilizar quando se trata de correr
riscos e abrir mão de prestígio, poder e dinheiro. Daí a necessidade de uma
educação profunda da consciência e da sensibilidade das pessoas e das
coletividades. Eric Fronn, psicólogo americano, insistia que o amor é objeto de
aprendizagem. Um de seus livros se chama: “A arte de amar”. Para aprendermos a
amar, são necessárias práticas educativas que infundam valores altruístas,
gestos solidários, ideais sociais pelos quais a vida ganha sentido e as
relações humanas se tornam verdadeira comunicação. Só se pode chamar de
verdadeira educação o processo que forma seres humanos mais felizes, dotados de
consciência crítica, participantes ativos do desafio permanente de aprimorar os
sistemas sociais e políticos no sentido do amor solidário, da igualdade social
e da justiça. A tarefa da educação é suscitar nas pessoas o espírito crítico e
a militância transformadora para construirmos um mundo novo possível. Caminhar
nesse sentido implica vencer alguns desafios da atual conjuntura. O primeiro
deles é superar o avassalador processo neoliberal de desistorização da
história. Sem perspectiva histórica não há consciência nem projetos políticos. O
filósofo alemão Theodor Adorno afirmava que o desafio mais urgente da educação
é desbarbarizar a sociedade. Ele compreendia
por barbárie uma sociedade que, de um lado, se encontra em um alto grau de
desenvolvimento tecnológico e, do outro, mantém as pessoas privadas de viver e
expressar a sua dignidade humana.
Paulo Freire afirmava que
somente a Educação não pode mudar a sociedade, mas, ao mesmo tempo, nenhuma
sociedade mudará sem que a educação desempenhe um papel fundamental. E nessa
educação humanitária e libertadora, o diálogo é o elemento fundamental.
Diálogo não é qualquer tipo de
comunicação. Não é apenas uma troca de opiniões e menos ainda um debate. É uma
relação entre pessoas que se colocam em atitude de escuta mútua para buscar
juntas a verdade. Assim sendo, o diálogo inclui uma dimensão interior: o
diálogo consigo mesmo. Ele se realiza mais profundamente no encontro amoroso
com as outras pessoas e é também postura de abertura e comunhão com a natureza
e o cosmos. Para quem tem fé, tudo isso compõe o diálogo com o mistério que as
religiões chamam de Deus. Ruben Alves, grande educador que nos deixou
recentemente, afirmava: “Educar é mais difícil do que ensinar. Para ensinar, basta
saber. Para educar, precisa ser”.
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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