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terça-feira, 16 de setembro de 2014

EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DO DIÁLOGO



Por Marcelo Barros

 Como a ONU instituiu o 08 de setembro como dia internacional da alfabetização, toda a semana passada foi consagrada à educação e a busca de novos meios para erradicar o analfabetismo. Conforme os mais recentes dados do IBGE, no Brasil atual, ainda existem 13 milhões de brasileiros/as de mais de quinze anos que são analfabetos. Além deles, existem os chamados “analfabetos funcionais” que, apesar de saberem ler, não se apropriaram ainda do direito de compreender o que leem, escrever o quiserem e ter sua voz e vez na sociedade. Todo esse assunto nos faz recordar o imenso legado de  Paulo Freire, com o seu método revolucionário de alfabetização de adultos e suas propostas novas de educação. Conforme esse grande educador, a educação é o processo que nos torna mais humanos. Alfabetizar não é apenas ensinar o ABC, mas possibilitar a todas as pessoas a participação cidadã na sociedade.  

De fato, nascemos todos autocentrados. Estamos todos permanentemente sujeitos às influências nocivas que satisfazem o nosso ego e tendem a nos imobilizar quando se trata de correr riscos e abrir mão de prestígio, poder e dinheiro. Daí a necessidade de uma educação profunda da consciência e da sensibilidade das pessoas e das coletividades. Eric Fronn, psicólogo americano, insistia que o amor é objeto de aprendizagem. Um de seus livros se chama: “A arte de amar”. Para aprendermos a amar, são necessárias práticas educativas que infundam valores altruístas, gestos solidários, ideais sociais pelos quais a vida ganha sentido e as relações humanas se tornam verdadeira comunicação. Só se pode chamar de verdadeira educação o processo que forma seres humanos mais felizes, dotados de consciência crítica, participantes ativos do desafio permanente de aprimorar os sistemas sociais e políticos no sentido do amor solidário, da igualdade social e da justiça. A tarefa da educação é suscitar nas pessoas o espírito crítico e a militância transformadora para construirmos um mundo novo possível. Caminhar nesse sentido implica vencer alguns desafios da atual conjuntura. O primeiro deles é superar o avassalador processo neoliberal de desistorização da história. Sem perspectiva histórica não há consciência nem projetos políticos. O filósofo alemão Theodor Adorno afirmava que o desafio mais urgente da educação é desbarbarizar a sociedade. Ele compreendia por barbárie uma sociedade que, de um lado, se encontra em um alto grau de desenvolvimento tecnológico e, do outro, mantém as pessoas privadas de viver e expressar a sua dignidade humana.

Paulo Freire afirmava que somente a Educação não pode mudar a sociedade, mas, ao mesmo tempo, nenhuma sociedade mudará sem que a educação desempenhe um papel fundamental. E nessa educação humanitária e libertadora, o diálogo é o elemento fundamental.

Diálogo não é qualquer tipo de comunicação. Não é apenas uma troca de opiniões e menos ainda um debate. É uma relação entre pessoas que se colocam em atitude de escuta mútua para buscar juntas a verdade. Assim sendo, o diálogo inclui uma dimensão interior: o diálogo consigo mesmo. Ele se realiza mais profundamente no encontro amoroso com as outras pessoas e é também postura de abertura e comunhão com a natureza e o cosmos. Para quem tem fé, tudo isso compõe o diálogo com o mistério que as religiões chamam de Deus. Ruben Alves, grande educador que nos deixou recentemente, afirmava: “Educar é mais difícil do que ensinar. Para ensinar, basta saber. Para educar, precisa ser”. 

 Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.  


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