Por Juracy Andrade
A proposta do papa
Francisco em prol da união das igrejas Católica Romana e Ortodoxa Grega é mais
uma das propostas renovadoras e recristianizadoras daquele que se apresenta aos
cristãos e ao mundo, não como o Sumo Pontífice (título pagão emprestado do imperador
romano), mas como o bispo de Roma (um título cristão bem singelo). Não se trata
de uma novidade. O Papa Montini (Paulo 6º) e outros já haviam feito gestos ecumênicos
em relação às igrejas ortodoxas Grega e Russa. A novidade é que o papa não
partiu de imposições e rendições, mas deseja uma autêntica união, ou reunião,
com base nos princípios comuns estabelecidos desde os primeiros séculos da Era
Cristã, incluindo os que se contêm no Símbolo de Niceia: unidade, santidade,
universalidade e apostolicidade (tradição apostólica).
Isso obrigará as diversas
igrejas que desejem a união, sejam ortodoxas, reformadas ou a de Roma, a muitas
renúncias. Sabemos que, mesmo depois do chamado cisma do século 10º, os papas
continuaram realizando concílios e proclamando unilateralmente dogmas de fé, o
que foi tornando cada vez mais difícil o reencontro daquela unidade tão
recomendada por Jesus Cristo. Embora o chamassem de ecumênicos, querendo
significar serem de toda a Igreja de Cristo. Também o outro lado teve seus concílios.
Houve de fato um concílio convocado por Roma que muito se aproximou do
ecumenismo cristão, sendo inclusive convidados para ele bispos não católicos
como ouvintes (o que houve também no Vaticano 1º; só que ninguém compareceu).
Foi o Vaticano 2º, de 1962 a 1964, praticamente ignorado pelos papas que vieram
depois, com exceção agora de Francisco que nele se apoia para muitas de suas
iniciativas.
Houve também, contudo,
concílios da desunião, como o de Trento (a chamada Contrarreforma, no século 16)
e o Vaticano 1º, no século 19. Convocado por Pio 9º em 1868, seu conteúdo
permaneceu envolto em mistério até que a revista dos jesuítas Civiltà Cattolica
anunciou o grande objetivo: a proclamação como dogma de fé da infalibilidade do
papa No ano seguinte, iniciava-se o concílio, que teve de ser interrompido em
julho do ano seguinte devido à eclosão de mais uma guerra entre a França e a
Alemanha, além da invasão de Roma pelos que lutavam pela unificação da Itália,
incluindo a tomada dos Estados pontifícios. Roma foi tomada pelos seguidores de
Mazzini e Garibaldi em julho de 1970. A proclamação da infalibilidade papal por
Pio 9º veio a despeito da não unanimidade de opiniões entre os padres
conciliares. Até hoje é mal digerida por católicos e, mais ainda, pelos
protestantes e ortodoxos.
Vamos torcer cristãmente
para que agora todas as igrejas realmente herdeiras da mensagem de Cristo
decidam atender ao apelo do nosso único Mestre, na véspera de sua morte,
voltando à unidade perdida.
Juracy Andrade é jornalista
com formação em filosofia e teologia
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