Foi inusitada a eleição de 2014
para eleger presidente, governadores de 26 estados e do Distrito Federal,
deputados estaduais e federais (estes, 513 para a Câmara dos Deputados) e
renovar 1/3 do Senado.
Para presidente, 11 candidatos!
Cinco formados nas fileiras do PT: Dilma, Marina, Eduardo Jorge, Luciana Genro
e Zé Maria.
O Congresso Nacional, a ser
empossado este ano, é remendo novo em pano velho, como diz o Evangelho. De cada
10 deputados federais eleitos, sete receberam recursos de ao menos uma das dez
empresas (empreiteiras, mineradoras, agroempresas, bancos) que mais investiram
na eleição. Algumas delas com seus diretores trancafiados na lavanderia da
Operação Lava- Jato, comprovando que nem a Suíça lava mais branco...
Nós votamos, elas (empreiteiras,
bancos etc) elegem, até que se proíba o financiamento de campanhas por pessoas
jurídicas. De fato, já está proibido, mas de direito ainda não: seis dos 11
ministros do STF votaram pela proibição e, no momento de manifestar seu voto, o
ministro Gilmar Mendes pediu vista e enfiou a decisão debaixo do braço. A
decisão foi tomada pela maioria, mas enquanto Mendes não se pronunciar a
corrupção continuará grassando em nosso sistema eleitoral.
O Congresso de 2015 não será
formado propriamente por bancadas de partidos, e sim de interesses: bancada do
agronegócio, bancada das empreiteiras (214 deputados de 23 partidos),
bancada dos bancos (197 deputados de 16 partidos), bancada dos frigoríficos
(162 deputados de 21 partidos), bancada das mineradoras (85 deputados de 19
partidos), bancada da bebida alcoólica (76 deputados de 16 partidos). Sem falar
nas bancadas evangélica, da grande mídia etc.
A bancada da bala comemora. Mais
de 70% dos candidatos que receberam, legalmente, doações de campanha da indústria de armas e munições, se elegeram em outubro. Dos
30 nomes beneficiados pelo setor, 21 saíram vitoriosos das urnas: são 14
deputados federais e sete deputados estaduais. Fabricantes de armas destinaram
R$ 1,73 milhão para políticos de 12 partidos em 15 estados.
Ganha força em todo o país a
proposta de se levar adiante a reforma política, com financiamento público das
campanhas, redução do número de partidos, fidelidade partidária, e promovida
através de uma Constituinte exclusiva. O Plebiscito, realizado a 7 de
setembro de 2014, recolheu mais de oito milhões de votos.
As mudanças exigidas pelas
manifestações de junho/julho de 2003, e apoiadas por amplos setores da
sociedade civil, têm escassas possibilidades de ser abraçada pelos deputados e
senadores eleitos pelo viciado sistema do financiamento privado das campanhas
eleitorais.
O principal obstáculo para a
reforma política é a atual composição do parlamento: mais de 70% de fazendeiros
e empresários (da educação, da saúde, industriais etc); apenas 9% de mulheres
(elas são mais da metade da população brasileira); 8,5% de negros (51% dos
brasileiros se autodeclaram negros); menos de 3% de jovens (os jovens de 16 a
35 anos representam 40% do eleitorado do Brasil).
Frei Betto é escritor, autor de
“Oito vias para ser feliz” (Planeta), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/>
twitter:@freibetto.
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Maria Helena Guimarães Pereira
MHP Agente Literária - Assessoria
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