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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

MELHOR PARA A FRENTE



Por Maria Clara Lucchetti Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio 




Para que avaliar, retomar, fazer balanço?  Ainda que belas coisas hajam sucedido, é difícil um ano pior e mais desanimador que 2014.  Para o Brasil, pelo menos. Fora a vergonha inenarrável da Copa do Mundo – em casa! – seria difícil enumerar tantos e tão proeminentes roubos, ladroagens, falcatruas.  Tanta desmoralização de líderes de todas as procedências.  Tão absolutamente vergonhosas campanhas de ainda mais vergonhosas eleições.

As notícias que 2014 trouxe para o Brasil não poderiam ser piores, em termos econômicos, políticos e que tais.  Para que remoe-las e constatar: Sim, está tudo péssimo!?  Melhor olhar para a frente, crer e esperar, pedindo a intercessão do inspirador Péguy, que era fã da esperança.  Esperar que o pouco que houve de bom neste ano cresça e desenvolva-se pelo outro afora.

E eu resumiria essa “bondade” na consolidação da liderança mundial do Papa Francisco. Fato inegável e de alta importância.  Não se trata de ser católica e querer impingir o chefe de minha Igreja como personalidade de destaque.  Aliás, esse Papa não precisa disso.  Pois não apenas os católicos o amam.  O mundo, quando espera uma palavra de bom senso, sabedoria e firmeza, volta imediatamente os olhos para o Vaticano, onde o argentino que toma mate, torce pelo San Lorenzo e veio “do fim do mundo” fala e age.

O que mais impressiona no Pontífice é sua tenacidade e sua capacidade de dizer a palavra certa e tomar a atitude correta diante de cada desafio.  Assim foi com sua ida à Terra Santa, quando rezou nos dois muros e pediu a paz para as duas nações.  Assim foi quando com enorme discrição “costurou” o dificílimo acordo de aproximação entre Cuba e os Estados Unidos.  Assim foi quando lançou seu duro discurso à cúria, enumerando as atitudes condenáveis de inúmeros membros da mesma.

Hoje, na praia de Copacabana, em meio aos shows de artistas e cantores e aos fogos que iluminam os céus da princesinha do mar, estarão também, distribuídas em três telões, as palavras de Francisco, que se referirá ao evento que nossa querida cidade celebrará no ano que vai começar: seus 450 anos de fundação.  Aí na mesma praia onde falou aos jovens do mundo inteiro, as palavras do grande líder mundial que se tornou o Papa Francisco ressoarão para cerca de dois milhões de pessoas.  Público seguramente muito diferente dos quase 4 milhões que encheram a praia na Jornada Mundial da Juventude. Mas   atento e ávido de ouvir Francisco.

Melhor olhar para a frente: inspirados pela liderança firme e bem humorada, ao mesmo tempo sólida e carinhosa de Francisco, 2015 deverá ser um ano de amor pelo Rio de Janeiro.  Cuidado e carinho com suas feridas, que são muitas, desfigurando os rostos de seus habitantes, minando sua beleza tão justamente louvada em todos os tons e latitudes.  Tratar do Rio, fazer com que seu imenso potencial de beleza e feminino encanto volte a luzir e a brilhar, esta é a missão de cada carioca que na virada do ano certamente expressou desejos para o ano que se inicia.

O novo que esperamos é nossa responsabilidade construí-lo.  E chega até nós  nas palavras do Papa que, com sua autoridade moral, poderá imprimir um selo a nossos desejos e boas resoluções.  Para fazer o novo, é preciso que a novidade do Espírito tome as rédeas do processo e sopre livremente.  Este é o segredo de Francisco e o que o conduz em meio a conflitos e situações tão espinhosos e difíceis.

Que seja também o nosso segredo em 2015.  Que venha o novo simbolizado pelo Espírito que é livre e sopra onde quer e nunca se repete.  Ter um líder mundial da estatura do atual Papa não é pouca coisa.  Não desperdicemos essa oportunidade.  Temos alguém que faz para nós a “exegese”, a interpretação dos rumos que o Espírito deseja imprimir a este mundo e à humanidade. É fundamental ouvi-lo e deixarmos nos guiar por ele. 

Olhar para frente é melhor do que para trás.  A Bíblia já diz que quem toma a última atitude vira estátua de sal.  Em nosso caso, olhar para a frente é condição “sine qua non” de saúde mental e espiritual.  Olhar e andar para a frente sob a liderança de Francisco certamente transformará 2015 em bela aventura para nossa cidade, nosso país e para o mundo como um todo.

FELIZ ANO-NOVO!

A teóloga é autora de “O  mistério e o mundo –  Paixão por  Deus em tempo de descrença” (Rocco). 
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