Por Maria Clara Lucchetti
Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio
Para que avaliar, retomar, fazer
balanço? Ainda que belas coisas hajam sucedido, é difícil um ano pior e
mais desanimador que 2014. Para o Brasil, pelo menos. Fora a vergonha
inenarrável da Copa do Mundo – em casa! – seria difícil enumerar tantos e tão
proeminentes roubos, ladroagens, falcatruas. Tanta desmoralização de
líderes de todas as procedências. Tão absolutamente vergonhosas campanhas
de ainda mais vergonhosas eleições.
As notícias que 2014 trouxe para
o Brasil não poderiam ser piores, em termos econômicos, políticos e que
tais. Para que remoe-las e constatar: Sim, está tudo péssimo!?
Melhor olhar para a frente, crer e esperar, pedindo a intercessão do inspirador
Péguy, que era fã da esperança. Esperar que o pouco que houve de bom
neste ano cresça e desenvolva-se pelo outro afora.
E eu resumiria essa “bondade” na
consolidação da liderança mundial do Papa Francisco. Fato inegável e de alta
importância. Não se trata de ser católica e querer impingir o chefe de
minha Igreja como personalidade de destaque. Aliás, esse Papa não precisa
disso. Pois não apenas os católicos o amam. O mundo, quando espera
uma palavra de bom senso, sabedoria e firmeza, volta imediatamente os olhos
para o Vaticano, onde o argentino que toma mate, torce pelo San Lorenzo e veio
“do fim do mundo” fala e age.
O que mais impressiona no
Pontífice é sua tenacidade e sua capacidade de dizer a palavra certa e tomar a
atitude correta diante de cada desafio. Assim foi com sua ida à Terra
Santa, quando rezou nos dois muros e pediu a paz para as duas nações.
Assim foi quando com enorme discrição “costurou” o dificílimo acordo de
aproximação entre Cuba e os Estados Unidos. Assim foi quando lançou seu
duro discurso à cúria, enumerando as atitudes condenáveis de inúmeros membros
da mesma.
Hoje, na praia de Copacabana, em
meio aos shows de artistas e cantores e aos fogos que iluminam os céus da
princesinha do mar, estarão também, distribuídas em três telões, as palavras de
Francisco, que se referirá ao evento que nossa querida cidade celebrará no ano
que vai começar: seus 450 anos de fundação. Aí na mesma praia onde falou
aos jovens do mundo inteiro, as palavras do grande líder mundial que se tornou
o Papa Francisco ressoarão para cerca de dois milhões de pessoas. Público
seguramente muito diferente dos quase 4 milhões que encheram a praia na Jornada
Mundial da Juventude. Mas atento e ávido de ouvir Francisco.
Melhor olhar para a frente:
inspirados pela liderança firme e bem humorada, ao mesmo tempo sólida e
carinhosa de Francisco, 2015 deverá ser um ano de amor pelo Rio de
Janeiro. Cuidado e carinho com suas feridas, que são muitas, desfigurando
os rostos de seus habitantes, minando sua beleza tão justamente louvada em
todos os tons e latitudes. Tratar do Rio, fazer com que seu imenso
potencial de beleza e feminino encanto volte a luzir e a brilhar, esta é a
missão de cada carioca que na virada do ano certamente expressou desejos para o
ano que se inicia.
O novo que esperamos é nossa
responsabilidade construí-lo. E chega até nós nas palavras do Papa
que, com sua autoridade moral, poderá imprimir um selo a nossos desejos e boas
resoluções. Para fazer o novo, é preciso que a novidade do Espírito tome
as rédeas do processo e sopre livremente. Este é o segredo de Francisco e
o que o conduz em meio a conflitos e situações tão espinhosos e difíceis.
Que seja também o nosso segredo
em 2015. Que venha o novo simbolizado pelo Espírito que é livre e sopra
onde quer e nunca se repete. Ter um líder mundial da estatura do atual
Papa não é pouca coisa. Não desperdicemos essa oportunidade. Temos
alguém que faz para nós a “exegese”, a interpretação dos rumos que o Espírito
deseja imprimir a este mundo e à humanidade. É fundamental ouvi-lo e
deixarmos nos guiar por ele.
Olhar para frente é melhor do que
para trás. A Bíblia já diz que quem toma a última atitude vira estátua de
sal. Em nosso caso, olhar para a frente é condição “sine qua non” de
saúde mental e espiritual. Olhar e andar para a frente sob a liderança de
Francisco certamente transformará 2015 em bela aventura para nossa cidade,
nosso país e para o mundo como um todo.
FELIZ ANO-NOVO!
A teóloga é autora de “O
mistério e o mundo – Paixão por Deus em tempo de descrença”
(Rocco).
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