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terça-feira, 7 de abril de 2015

PÁSCOA, ANÚNCIO DE LIBERTAÇÃO

Por Marcelo Barros


Cada vez mais, em nossas cidades, as festas religiosas representam apenas dias de descanso ou feriados para passear. Isso é normal em uma sociedade laica e pluralista, na qual convivem crentes de diversas religiões e pessoas que não pertencem a nenhuma. Seja como for, é bom que toda pessoa de boa vontade saiba: desde o domingo passado e por 50 dias, as Igrejas antigas celebram a Páscoa. Trata-se da revivência de um fato que, embora guarde uma linguagem religiosa, contém uma verdade mais aberta e universal. Isso pode interessar a toda pessoa que busca um novo mundo possível.
 
Muito antigamente, no Oriente Médio, antes de existir comunidades judaicas, a Páscoa era uma festa, através da qual agricultores e pastores de ovelhas celebravam a chegada da primavera. Como era marcada por danças, tomou esse nome que, em hebraico antigo, significava: passos. As pessoas davam passos rituais para sair dos abrigos nos quais se protegiam do frio do inverno. Saíam para a liberdade da natureza que, na primavera, brota de novo e mostra sua força de vida. Conforme a tradição bíblica, em uma dessas antigas festas de Páscoa, escravos hebreus viveram a libertação do Egito, conduzidos por um Deus que, conforme a Bíblia, não aceita que nenhum ser humano seja escravo ou explorado. Até hoje, a cada ano, as comunidades judias celebram a Páscoa para recordar que toda pessoa tem vocação para ser livre e libertar os outros. Já os evangelhos cristãos contam que, por ocasião de uma Páscoa, o profeta Jesus de Nazaré foi celebrar a festa em Jerusalém. Ali foi condenado à morte e assassinado pelos romanos que dominavam Israel. Depois de morto, seus discípulos testemunharam que sua presença continua viva na comunidade dos discípulos/as que obedecem à sua proposta de renovar-se e serem pessoas de comunhão com toda a humanidade e com a natureza.

Atualmente, no mundo pluralista em que vivemos, cada vez mais, os verdadeiros cristãos e cristãs se tornam uma minoria. Eles se unem a toda pessoa de boa vontade para que se torne verdade a proposta divina de um mundo justo e igualitário no qual todas as pessoas possam viver de forma livre e com dignidade. A celebração da Páscoa, tanto judaica, como cristã, deve sinalizar essa esperança. Os ritos pascais retomam a veneração aos elementos básicos da natureza: a terra, o fogo, a água e o ar (o vento que, em hebraico, significa Espírito). Essa dimensão ecológica da Páscoa lhe dá uma dimensão mais ampla do que as celebrações religiosas. Pode até ajudar a humanidade a retomar a uma espiritualidade mais ecológica de comunhão com a Terra e a natureza. Além disso, a Páscoa judaica e cristã é, em si mesma, anúncio de libertação para toda a humanidade. Em América Latina, mesmo ainda de forma parcial e incompleta, o processo bolivariano, que emerge das comunidades populares na Bolívia, no Equador e na Venezuela, tem um caráter pascal porque parte do cuidado com os mais empobrecidos e nos chama a ser homens e mulheres novos, renovados pelo Espírito Divino e conduzidos para a justiça e a liberdade. Quem é cristão/ã é chamado/a a viver esse caminho como testemunha de que Jesus ressuscitou verdadeiramente e está no meio de nós. Em nós, o seu Espírito engravida um mundo novo.

 Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países



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