Por Marcelo
Barros
Nesses
dias, o mundo recordou a unificação da Alemanha, quando no dia 03 de outubro de
1990, durante uma noite, milhares de pessoas derrubaram, com as próprias mãos,
o muro de Berlim. Além de dividir uma cidade em duas, aquele muro construído no
início dos anos 60, simbolizava a chamada "cortina de ferro" entre a
Europa Ocidental e o Bloco de Leste. O muro de Berlim tinha 66,5 km de grade
metálica, 302 torres de observação, 127 redes eletrificadas dotadas de alarme e
255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. As estatísticas oficiais
falam em centenas de pessoas mortas e milhares aprisionadas na tentativa de transpor
aquele muro.
Agora, a
Alemanha celebrou o aniversário de 25 anos da queda do muro de Berlim, levantando
um novo muro em suas fronteiras para deter a onda de migrantes que tentam
entrar na Europa. Não era mais necessário um muro de tijolos e concretos e sim
uma muralha de desamor, preconceito e discriminação.
No momento atual, os migrantes servem para que os governantes de uma Europa em crise mortal desviem a atenção de seus eleitores para que não percebam os fracassos da política econômica oficial e da falta de perspectivas. Esses governantes fazem dos migrantes o inimigo externo do qual precisavam para fugir do julgamento coletivo. E jogam nos migrantes a culpa do desemprego e da decadência da sociedade europeia, provocada pelo veneno do que o papa Francisco tem chamado “a cultura da indiferença na qual o lucro é muito mais importante do que as pessoas”.
No momento atual, os migrantes servem para que os governantes de uma Europa em crise mortal desviem a atenção de seus eleitores para que não percebam os fracassos da política econômica oficial e da falta de perspectivas. Esses governantes fazem dos migrantes o inimigo externo do qual precisavam para fugir do julgamento coletivo. E jogam nos migrantes a culpa do desemprego e da decadência da sociedade europeia, provocada pelo veneno do que o papa Francisco tem chamado “a cultura da indiferença na qual o lucro é muito mais importante do que as pessoas”.
Durante
séculos, as potências da Europa exploraram os territórios e as populações dos
países africanos. Roubaram da África tudo o que podiam e condenaram os
africanos à fome e à miséria. Agora, aos sobreviventes que fogem da morte,
negam a última esperança de vida. Nos anos mais recentes, os mesmos governos da
Europa, junto com o dos Estados Unidos, armaram os rebeldes da Síria e tornaram
esse país um inferno vivo. Agora estranham que os sobreviventes de uma guerra
mortífera batam às suas portas.
Na Idade
Média se erguiam muros em torno das cidades. Agora, são países que constroem
muros para se proteger de migrantes. Na fronteira dos Estados Unidos com o
México, um muro alto percorre 300 km de extensão. Em sua sombra, abundam cadáveres de latino-americanos,
eletrocutados ao tentarem atravessar o muro, ou abatidos pelos guardas do
Império. Um muro imenso separa o Estado de Israel dos territórios palestinos
ainda não ocupados. Outros muros dividem a Índia do Paquistão. Mais violentos
ainda do que os muros de concreto são os do mercado elitista que excluem
milhões de pessoas de qualquer possibilidade de uma vida digna. No mundo
inteiro, pessoas se comovem ao ver a fotografia do pequeno Aylan, a criança
síria de três anos, morta em uma praia da Turquia, quando seus pais tentavam
entrar na Europa. Mas, poucos dias depois da morte de Aylam, calculam-se em, ao
menos 250 pessoas entregues à morte no Mediterrâneo para não aportarem nas
costas europeias.
Embora
alguns bispos e cardeais tenham se pronunciado para que a Europa só acolha
migrantes cristãos, o papa apelou para que todas as dioceses, paróquias e
conventos abram suas portas para acolher o maior número possível de migrantes e
refugiados. A Bíblia lembra aos antigos israelitas: “Lembra-te que foste migrante
e refugiado no Egito. Portanto, trata bem o estrangeiro que mora em teu meio”.
E, para mostrar que Jesus retoma a vocação e o destino de Israel, o evangelho
de Mateus conta que, assim que Jesus nasceu, José, seu pai, teve de fugir com a
família para o Egito afim de escapar da perseguição do rei Herodes. Quando
nenhum muro puder mais conter os direitos humanos de quem procura sobreviver e
as fronteiras da Europa se mostrarem insuficientes para acolher as novas
migrações, lembremo-nos de que, de um modo ou de outro, todos somos filhos de
migrantes e refugiados. Somos todos filhos de uma única humanidade e, como
irmãos e irmãs, cidadãos do planeta Terra, a nossa casa comum. Os cristãos são
discípulos e discípulas de Jesus de quem São Paulo afirmou: “Ele derrubou os
muros de inimizade que separavam os povos” (Ef 2, 13 ss).
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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