Por Frei Betto
Retornei a Cuba em meados de outubro para receber o título de DoutorHonoris
Causa em Filosofia, da Universidade de Havana, fundada pelos frades
dominicanos em 1728.
Com o reatamento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, graças à mediação
do papa Francisco, a ilha caribenha passa por mudanças significativas.
O país recebeu, ano passado, 3 milhões de turistas. Uma vergonha para o Brasil,
se considerarmos que o nosso país, 64 vezes maior, dispõe de um potencial
turístico equivalente ao seu tamanho e recebe apenas 6 milhões de turistas por
ano.
Cuba tem política turística, o que não temos. Nosso turismo gira em torno do
lazer (praias e Carnaval). Lá, além do lazer, se exploram turismos científico,
cultural e ecológico. E pensar que abrigamos a Amazônia...
A previsão é de que a reaproximação dos EUA deverá dobrar o número de turistas
nos próximos anos: 6 milhões. Metade virá dos EUA, que ainda hoje proíbe a seus
cidadãos o turismo individual a Cuba. Por incrível que pareça, um estadunidense
pode comprar, numa agência de viagens, um pacote turístico para ir a Coreia do
Norte ou Irã. Não para Cuba. O bloqueio, que ainda vigora, impõe uma série de
restrições aos ianques. Por enquanto, a eles só é permitido visitar Cuba em
grupos de idosos ou por razões de tratamento médico e interesses cultural,
científico ou religioso.
Findo o bloqueio, acredita-se que haverá uma avalanche de estadunidenses na
ilha caribenha. Sobretudo por razões de saúde. A ilha oferece tratamentos a
baixo custo e tem expertises em ortopedia, oncologia, dermatologia e outras
especialidades. Em 2012, o turismo de saúde atendeu 8.500 pacientes, o que
representou uma arrecadação de US$ 24 milhões.
O país está preparado para a avalanche estadunidense? Não. Precisa ampliar sua
malha hoteleira, já melhorada por investimentos espanhóis, canadenses e
ingleses. Toda propriedade de grande porte é em parceria público privada: 49%
capital estrangeiro e 51% Estado cubano.
Um dos entraves a resolver é a existência de duas moedas: o CUC para turistas e
o CUP para cubanos. O primeiro vale 25 vezes mais do que o segundo. Esse foi um
recurso para enxugar o mercado negro de dólares, já que entram no país, vindo
de cubanos residentes nos EUA, US$ 1 bilhão ao ano.
Porém, fez crescer a desigualdade social entre os cidadãos com acesso ao CUC,
em especial os que trabalham no setor turístico, e os demais, embora tais
diferenças ainda não produzam moradores de rua, máfias de drogas, crianças fora
da escola e dificuldade de acesso à saúde e educação – que são gratuitas e de
qualidade.
O que será de Cuba quando for suspenso o bloqueio imposto pelo Congresso dos
EUA? Para a maioria dos cubanos e a Igreja Católica presente no país, nem
pensar em retornar ao capitalismo. Não querem que o futuro de Cuba seja o
presente de Honduras ou Guatemala. Para a Revolução, o desafio é aprimorar o
socialismo, flexibilizando a economia estatizada.
Frei Betto é escritor,
autor de “Paraíso perdido – viagens aos países socialistas” (Rocco), entre
outros livros.
http://www.freibetto.org/>
twitter:@freibetto.
Copyright 2015 – FREI BETTO – Favor
não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los
ou publicá-los em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou
impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência
Literária (mhgpal@gmail.com)
Você acaba de ler
este artigo de Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele -
em português, espanhol ou inglês - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário