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terça-feira, 26 de maio de 2020

COVID 19 - TRIGÉSIMA - TERCEIRA REFLEXÃO - PENTECOSTES EM TEMPOS DE CORONAVIRUS


por  Frei Aloísio Fragoso

    No próximo domingo celebraremos a festa de Pentecostes. Eu não vacilaria um instante em invocar o Espírito Santo para término e coroamento destas "REFLEXÕES", que chegam hoje ao sugestivo número de 33. Sem esta Luz Sobrenatural, fazendo a ponte entre mim e os leitores, entre o dom da palavra e o dom do entendimento, tudo o que está escrito não vai além da pequenez humana e será esquecido em pouco tempo.

     VINDE, ESPÍRITO SANTO!

     Se pedirem uma definição Dele, não haverá resposta. Nós que  mal conhecemos os segredos do nosso espírito, como poderíamos definir o Espírito Divino? Contudo se, desinteressados de saber quem Ele é, perguntarem o que Ele faz, com certeza numerosas testemunhas se apresentarão prontas a declarar: "algumas coisas já me aconteceram que não encontram explicação, a não ser crendo que um Ser Superior entrou na minha vida."

     Quando nos faltam palavras determinativas, recorremos a metáforas, imagens, alegorias. Assim, no livro do Gênese, a ação do Espírito Santo é simbolizada pelo substantivo "ruah", que significa vento, hálito, sopro. Já no Evangelho de Mateus 3,16, esta presença é representada na figura de uma pomba. Por fim, no dia de Pentecostes, Ele aparece aos Apóstolos em forma de línguas de fogo. Mergulhemos na simbologia destas imagens. SOPRO VITAL,  uma vez acionado, dá origem a toda nova vida. FOGO, queima, destrói, mas também ilumina, purifica, transforma. E a SUAVE POMBINHA,  simbolizando o anseio maior do espírito humano, a Paz. O Espírito Santo está, pois, no início, no percurso e no fim da História Universal.

     Diante desta visão de um Espírito em constante movimento, temos direito a levantar algumas questões da ordem do dia: onde é que Ele se encontra neste momento? Como perceber seu sopro poderoso neste nosso planeta mal-assombrado pela presença de um fantasma tenebroso?

     Talvez Ele esteja abrindo nossos olhos para algumas verdades que, de tão cegos, surdos e mudos,  em tempos normais, nós só conseguimos enxergar em situações de grandes crises. Antes de avaliar estas verdades, consideremos o seguinte: não devemos esperar, da parte do Espírito Santo, consolações lamuriosas, de quem muda nosso choro em risos, fazendo-nos esquecer suas causas. Ele quer nossa cura definitiva e isso não é possível por meio de paliativos e sim de mudanças radicais, mormente quando se trata de extirpar pela raiz as causas morais de nossas enfermidades.

     Não temos o controle dos acontecimentos da História, sejam eles produzidos por mãos humanas, sejam desencadeados pelas forças da natureza irracional. A parte que depende de nós, de nossa fé, coragem, iniciativa, é um instantezinho de nada, um pequenino pingo d'água perdido nos oceanos de milhões de anos. Embora devamos assumir nossa tarefa de operários em construção,  o fio condutor da História está nas mãos de um Ser Supremo que garante seus resultados.

     Em nosso brevíssimo tempo de ver as coisas, só enxergamos o COVID 19 como ele de fato aparece aos nossos olhos, uma enorme e escura catástrofe. No entanto, como ele será avaliado pelas futuras gerações? Talvez elas venham a provar que o coronavirus não foi a causa incipiente de tantas dores e mortes e sim consequência do nosso modo de viver e organizar o mundo. Por outro lado, poderão ser generosas conosco, e absolver-nos da culpa, pelo fato de que muitos de nós arriscaram ou até sacrificaram suas vidas, e, com isso, apressaram a descoberta da vacina salvadora, poupando os nossos descendentes de uma terrível pandemia que, se hoje nos surpreendeu, poderia surpreendê-los, algum dia.

     Se o modelo que escolhemos para o desenvolvimento humano tivesse priorizado, em lugar do poder e do prazer, o bem real das pessoas, sua saúde física e mental e as relações harmoniosas entre elas, talvez já tivéssemos descoberto os meios eficazes de superar esta  e outras pandemias possíveis. Na última hora, olhamos para trás e temos de reconhecer: como somos pequenos, nós que nos julgávamos reis onipotentes da Criação!

     Segundo um dos relatos do livro do Gênese, após criar diversas categorias de seres, Deus contemplou sua obra e "viu que tudo era muito bom". Repete esta expressão até chegar a vez de criar o homem e a mulher. Aí Ele se cala. Podemos entender esta simbologia como um aviso de que nós, seres humanos, ainda não fomos criados,  nosso processo de criação ainda não terminou, ainda não "somos muito bons" porque fomos criados para a perfeição e agora somos nós os responsáveis de levá-lo adiante, até o seu acabamento. Como é normal na gestação e no parto de novas vidas, é inevitável que haja riscos, medos e sofrimentos.

     Há um profundo significado teológico em algumas cenas da Paixão e Ressurreição de Jesus. Depois de flagelado, escarnecido e coroado de espinhos, Ele é levado a Pilatos e este exclama: "ECCE HOMO!" (Eis o homem!). Quando, após a Ressurreição, o apóstolo Tomé o reconhece, crê e exclama  "MEU SENHOR E MEU DEUS!", (como se dissesse "Eis o Deus!"), Jesus aponta os sinais de suas chagas e lhe diz "olhe aqui, toque aqui, por que duvidaste?". Enquanto homem e enquanto Deus, Ele se faz reconhecer nas marcas do sofrimento humano. Que significa isso? Ele está divinizando o nosso sofrimento? Não! Na verdade, Ele está livrando-nos  do desespero, com a possibilidade sobre-humana de transformar sofrimento em provas de amor.

      Há muita coisa ainda que precisamos entender sob a Luz do Espírito Divino. Voltaremos a este assunto antes do dia de Pentecostes. Até lá, vamos repetir, como um mantra, de face voltada para o nosso mundo enfermo: VINDE, ESPÍRITO SANTO....

Amém.

  Amém. FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.

 


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