Por Frei
Betto
Chegam às livrarias esta semana dois livros meus: “Paraíso perdido – viagens ao
mundo socialista” (Rocco) e “Um Deus muito humano – um novo olhar sobre Jesus”
(Fontanar).
Já são 60 livros publicados, sem contar os assinados em coautoria. Segundo o
jornalista Ricardo Kotscho, meu amigo de longa data, não sou eu quem escrevo,
são os 60 fradinhos que, recolhidos às catacumbas do convento e alimentados de
pão e vinho, redigem os textos que assino...
A frase é atribuída a vários gênios, como Einstein e Thomas Edison, mas sem
dúvida o ofício de escritor, como o do cientista, exige 10% de inspiração e 90%
de transpiração. Há que ter disciplina. No meu caso de escritor compulsivo,
reservo 120 dias do ano exclusivamente à literatura. Isolo-me, desligo o
celular e mergulho na produção de meus textos.
“Paraíso perdido”, reedição ampliada e cujo texto foi todo reescrito, narra 33
anos (1979-2012) de viagens a países socialistas. Nenhuma delas como turista.
Todas a trabalho – conferências, eventos e, sobretudo, reaproximação entre
religiões e Estado comunista. Com a anuência tanto de religiosos quanto de
políticos locais.
Comecei pela Nicarágua sandinista, em 1969. E até 1989 passei por Cuba, Rússia,
Letônia, Lituânia, China, Tchecoslováquia, Polônia e República Democrática da
Alemanha. Após a queda do muro de Berlim, restrinjo-me a Cuba, que continuo a
visitar e acompanhar o processo de reatamento de relações com os EUA.
O livro é uma reflexão sobre a utopia que mobilizou o melhor de minha geração:
alcançar um mundo sem desigualdades sociais, onde todos tivessem assegurada
vida digna. A partir de fatos, descrevo conquistas e contradições do
socialismo; longas conversas com Fidel, Raúl Castro e Lech Walesa; desafios e
preconceitos à fé cristã; e encontros, naqueles países, com familiares de Che
Guevara, Gabriel García Márquez, Ernesto Cardenal, Armando Hart, Roberto
Fernández Retamar, Marcello Mastroianni, Chico Buarque, Hélio Pellegrino,
Fernando Morais, Leonardo Boff, Dom Pedro Casaldáliga e outros.
“Um Deus muito humano” reúne textos sobre a emblemática figura de Jesus. São
pequenos ensaios, acessíveis ao leigo, que tratam das diferentes ópticas sobre
Jesus e seu contexto histórico, político e moral, com vistas a proporcionar ao leitor melhor
compreensão sobre o homem de Nazaré e as razões que levaram dois poderes
políticos a condená-lo à morte na cruz. Enfatizo o sentido de sua mensagem para
os dias de hoje.
As duas obras têm lançamentos agendados em noites de autógrafos no Rio (3 de
agosto, Esch Café Leblon, rua Dias Ferreira 78), em Belo Horizonte (4 de
agosto, Projeto Sempre um Papo, Museu das Minas e do Metal, Praça da Liberdade)
e em São Paulo (10 de agosto, Esch Café, Alameda Lorena 1899).
Frei Betto é escritor,
autor de “Calendário do poder” (Rocco), entre outros livros.
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