O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

FEIJÃO, FUZIL E ARAÇATUBA

 

Frei Betto


 

       No sábado, 28 de agosto, cometi tremenda idiotice: comi feijoada. Tivesse dado ouvidos a milicianos, teria caído de boca num prato de balas de fuzil. Mas se careço de inteligência, esbanjo memória. Lembro-me do cerco de Jerusalém, no ano 70, comandado pelo general romano Tito, filho do imperador Vespasiano. No desespero da fome dentro da cidade sitiada, moradores ricos clamavam por trocar joias e ouro por um pedaço de pão. 

       Desconfio que os assaltantes dos bancos de Araçatuba trilharam o caminho inverso. Armaram-se de fuzis e bombas para roubar dinheiro e comprar feijão. 

       Devido aos aumentos do gás de cozinha, da gasolina e do diesel, num país cujos produtos trafegam em quatro rodas, somados à alta da inflação e dos preços dos alimentos, falta feijão na mesa do brasileiro. Nos últimos 12 meses, o preço do feijão-fradinho subiu 42,4%. O do arroz, 39,7%. E todos que nascemos ao som do grito do Ipiranga bem sabemos que o bem-estar do brasileiro se apoia em cinco efes: feijão, farinha, futebol, festa e fé. 

       Se o feijão anda escasso na mesa do brasileiro, as armas abundam nos arsenais. Dados do Ministério da Economia informam que, em 2020, nossa população importou US$ 29,3 milhões (equivalente a 150 milhões de reais) em revólveres e pistolas, um recorde histórico. O volume importado foi 2.656% maior que a média da série histórica, iniciada em 1997. Hoje, o Brasil importa mais armas de fogo que bicicletas e lápis. 

       Segundo Bernardo Mello Franco (O Globo, 29/08/2021), em 2020 praticamente dobrou o número de armas registradas na Polícia Federal. Foram 186 mil, aumento de 97,1% em relação ao ano anterior.  E o governo facilitou também o acesso a armas de alto poder ofensivo, como fuzis semiautomáticos, cujo uso era restrito às forças de segurança.

       E você, preclaro leitor ou estimada leitora, onde pensa que vai parar a maioria dessas armas, no prato dos brasileiros ou nas mãos de bandidos como os de Araçatuba?

       Não é à toa que BolsoNero escolheu como lema de seu governo o verso truncado de nosso hino nacional: “Pátria armada, Brasil”. 

Frei Betto é escritor, autor de “O diabo na corte – leitura crítica do Brasil atual” (Cortez), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

  Frei Betto é autor de 69 livros, editados no Brasil e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org  Ali os encontrará  a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio. 

  ®Copyright 2021 – FREI BETTO – AOS NÃO ASSINANTES DOS ARTIGOS DO ESCRITOR - Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 

 

 http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.

Você acaba de ler este artigo de Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele - em português e espanhol - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário