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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

"O AMOR, EM TEMPOS DE CORONAVIRUS"

 FREI ALOÍSIO FRAGOSO


(30/agosto/2021)

 

     Desconfio de que estarei correndo riscos imprevistos se entrar de peito aberto no assunto acima proposto. Mas, se não entrar, estarei comprometendo tudo que refletimos, anteriormente, a respeito da Fé. "A Fé sem obras é morta" Tg.2,17. Qual é, pois, o único insuspeito comprovante da prática de fé? Sem dúvida é a prática do amor: "se alguém disser que ama a Deus, a quem não vê, e não ama o irmão, a quem vê, é um mentiroso". Jo.4,20.

      Trata-se do mais universal e popular de todos os assuntos. Além disso, ele possui a força mágica de uma idéia simples: "te amo". Hoje esta expressão "te amo" tornou-se uma espécie de gíria na boca de crianças, adolescentes, jovens, adultos, anciãos, amantes, amigos, e até de simples parceiros de humanidade.

      Numa sala de debates ou numa roda de conversas, não há ninguém que não tenha uma opinião "abalizada"  sobre este assunto. Daí, sempre que um orador se dispõe a discorrer sobre ele, toda a assembléia se eriça, na expectativa de uma novidade. Inutilmente. Todos os pensamentos já foram expressos, e todos os sentimentos, manifestos, e todas as palavras, pronunciadas, e cometidas todas as loucuras. A única novidade é aquela que procede da experiência de cada um. O fato de ser eu, de ser você, de ser um de nós a viver esta experiência, isso é o que há de original, uma vez que cada um é único, irrepetível.

      Apesar disso, uma pergunta paira no ar de milhões de anos sem resposta satisfatória, e ela nasce de um desejo humano primário, elementar: o que é o amor? Conhecemos definições coletadas de poetas, romancistas, filósofos, místicos. Nenhuma delas estancou a corrente sanguínea que vai até o coração e o leva a indagar, sempre de novo , "o que é o amor". Como se explica esta teimosia do coração? Decerto porque se trata da única realidade pela qual vale a pena pagar o tributo de uma vida inteira.

     Uma das respostas mais sábias foi dada por duas crianças, a quem fizeram esta pergunta; a primeira disse "o amor? Eu não sei, eu só tenho 4 anos!" E a outra: "o amor é painho e mainha". Profunda intuição infantil! Só sabe o que é o amor quem já trilhou os caminhos de uma longa experiência de vida.  É por isso que, enquanto adolescentes e jovens repetem mil juras de amor (te amo, te amo, te amo...), os mais versados no dom de viver, pela provação dos anos,  guardam suas declarações para os momentos exponenciais. No primeiro caso, as palavras preenchem a lacuna da experiência; no segundo, a experiência não carece de palavras.

     A outra criança nos faz entender que amor não se define por conceitos verbais. Ele não é "o que", ele é "quem". É alguém, feito de carne viva, um homem, uma mulher, painho, mainha, a quem nada do que é humano pode ser alheio, inclusive a frustração de jamais alcançá-lo por inteiro.

     Vamos, pois, descartar a busca de conceitos  abstratos, o inútil florilégio de definições, de "amar é..." e vamos embarcar, como mestres a aprendizes, nesta aventura fantástica e caótica, repetitiva e única, tão antiga e sempre nova, provada em ações, não em palavras, como deve ser o amor. Mestres que somos, pela experiência voluntária ou compulsória,  e aprendizes, que nunca deixamos de ser, pela distância permanente entre a utopia e a realidade, entre o feijão e o sonho.

     No entanto, ao tema do amor acrescentamos  o da catástrofe do coronavirus. Esta será a nossa referência prática. Para tanto, convido leitores e leitoras a uma parceria de coautores. Basta que me enviem breves narrativas de casos práticos de amor heróico, no enfrentamento da covid (com identificações). Estes exemplos servirão para validar as reflexões que se seguirão, com o selo da autenticidade.

     E iniciemos com o depoimento de uma testemunha credenciada, pela coerência entre palavra e vida: "Diariamente assistimos ao testemunho de coragem e sacrifício destes profissionais da saúde que, com competência, abnegação, senso de responsabilidade e amor ao próximo, prestam assistência às pessoas afetadas pelo coronavirus, colocando em risco sua própria saúde". "Iluminados pela  relação humana e humanizadora com os doentes, eles são os santos da porta ao lado".

(Papa Francisco, no Dia Internacional da Enfermagem.)

-Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor

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