Por MARCELO BARROS
Até os anos 70 ou 80, o 1º de maio era
comemorado, no mundo todo, com passeatas e concentrações que reuniam, em cada
cidade, milhares de trabalhadores. Hoje, quase não se veem mais essas
manifestações e as poucas que ocorrem se reduzem a shows com artistas populares
promovidos por sindicatos que fazem isso mais por tradição do que por espírito
associativo. A maioria das pessoas percebe que tudo isso mudou e ninguém mais
vê movimentos de trabalhadores. Antes, eles se reuniam para exigir melhores
salários e condições de vida mais dignas. Hoje, diante da crise do desemprego
estrutural, às vezes, são os próprios trabalhadores que propõem redução de
trabalho para evitar demissões em massa. Na Europa, no início dos anos 80,
analistas sociais escreviam que se a taxa de desemprego chegasse a 8%, a
sociedade não aceitaria e haveria uma convulsão social grave. Hoje há países
como a Grécia, a Espanha e mesmo a Itália, onde a parcela de desocupados chega a quase 30% e não acontece nada. Na
sociedade atual, quem perde o emprego sabe que não se trata de uma situação
passageira e que daqui a alguns dias ou semanas ou meses, conseguirá outro. O
desemprego é estrutural. As empresas são consideradas sadias e lucrativas
quanto menos empregados contratarem. E o mais grave de tudo isso é que essa
situação é vista por muitos como normal ou ao menos como inevitável. A maioria
dos meios de comunicação apregoa o neoliberalismo como um dogma e a exclusão
social da imensa maioria das pessoas como um sacrifício inevitável e positivo
do progresso.
De fato, a forma mais atual do Capitalismo
considera como seus três grandes inimigos, o Estado, a natureza e o trabalho. Mesmo
as Igrejas e religiões não reagem a isso e muita gente que se considera
espiritual se deixa cooptar por esse desumano modo de ser e viver. Mesmo em
países nos quais o governo se diz popular ou até socialista, a regra é
privatizar tudo o que é possível. Fala-se em desenvolvimento sustentável e em
economia verde, mas contanto que o lucro dos patrões seja garantido. Como a sociedade é da informação, o trabalho
concreto é visto como coisa do passado.
Como os profetas e profetizas da justiça e
da paz são sempre minorias, mas nunca deixam de atuar, o 1º de maio continua
sendo uma data simbólica. Em algumas cidades, movimentos de trabalhadores
promovem encontros e reflexões sobre as péssimas condições de segurança e a
precarização do mundo do trabalho, as ameaças de privatização dos hospitais
públicos e o desafio da saúde dos trabalhadores, assim como outros desafios que
o povo empobrecido enfrenta no Brasil.
Quem é cristão recorda que o evangelho chama
Jesus de carpinteiro ou artesão, termo usado na época para qualquer trabalhador
braçal. Assim, os homens e mulheres que hoje assumem a missão de participar da
caminhada coletiva do mundo do trabalho sabem que ao lutar pacificamente para
transformar esse mundo estão sendo testemunhas de que o reinado divino está
vindo e Deus está presente na luta do povo pela justiça e pela paz
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Marcelo
Barros, monge beneditino e peregrino de Deus
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