Por EDUARDO HOORNAERT
Escrevo aqui algumas
palavras acerca do primeiro sermão do papa Francisco, pronunciado no dia 19 de
março de 2013. Aí aparecem algumas expressões significativas que eu gostaria de
comentar com você. Por duas vezes, o papa se define como ‘bispo de Roma’, embora
ao mesmo tempo fale em ‘ministério petrino’ e afirme ser ‘sucessor de Pedro’.
Mas quando faz referência a Pedro, não se apoia no texto clássico de Mateus 16,
19 (‘tu és Pedro’) como reza a tradição, mas no último capítulo do evangelho de
João, onde Jesus confia suas ‘ovelhas’ aos cuidados de Pedro. Penso que esse
‘deslocamento’ é intencional. Num outro trecho do mesmo sermão, o papa declara
que a ‘rocha’ da igreja é Deus.
Esperávamos que ele dissesse que Pedro é a
rocha, mas não. O papa diz que a rocha da igreja é Deus. Estamos de novo diante
de uma maneira nova de se expressar. Estamos tão costumados a ouvir dizer que a
rocha da igreja é Pedro que ficamos impressionados pela capacidade do papa em
sugerir novidades por meio de palavras simples. O que o papa Francisco está
sugerindo com essas insinuações? Será que ele nos convida a estudar melhor a
história do papado e desse modo colaborar para uma reforma da igreja católica
em profundidade? Efetivamente, o governo central da igreja católica necessita
ser repensado em profundidade. Não corresponde mais aos anseios do tempo que
estamos vivendo. É o que todo mundo percebe. Fica mais claro a cada dia que
passa.
Eduardo Hoornaert foi professor catedrático de História da Igreja. É membro fundador da Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina (CEHILA). Atualmente está estudando a formação do cristianismo nas suas origens, especificamente os dois primeiros séculos.
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