Por Marcelo Barros
A
recente visita do papa Francisco ao Brasil recordou à Igreja Católica a sua
missão de dialogar com a humanidade, oferecer às pessoas o testemunho de que
Deus é amor e inclusão e não um senhor todo poderoso, frio e amigo apenas dos
seus amigos. Nessa semana, no Brasil, as comunidades cristãs e as pessoas que
buscam a justiça lembram com saudade de três bispos que exerceram sua missão de
modo profético e nos deixaram no mês de agosto. No dia 27, celebramos o aniversário
da partida de Dom Hélder Câmara (1999). Também, no mesmo dia, partiu Dom
Luciano Mendes de Almeida (2006). Poucos dias antes, lembrávamos Dom Antônio
Fragoso, outro profeta que nos deixou em agosto (12/08/2006). A esses bispos, não
teria sido necessário o papa Francisco pedir que fossem à periferia e tornassem
a Igreja pobre e dos pobres. Eles já viviam isso por convicção de fé e por
terem sido confirmados nesse caminho pelo Concílio Vaticano II.
Dom
Luciano se tornou bispo depois do Concílio, mas Dom Hélder e Dom Fragoso
lideraram um grupo de mais de 40 bispos que, no dia 16 de novembro de 1965, se
reuniu em Roma e assinou um compromisso de viver como pobres e ajudar a Igreja
a se inserir no meio dos pobres como uma Igreja serva, pobre e missionária. Como
a reunião foi nas Catacumbas de Domitila, esse documento se chamou “Pacto das
Catacumbas”. Nesses dias, pastores e fiéis da Itália retomaram esse texto e o
assinaram, como proposta a bispos, padres, religiosos/as e fieis que se guiem
por esse caminho da simplicidade e comunhão com os mais empobrecidos. No Brasil, três bispos eméritos, Dom Tomás
Balduíno, Dom José Maria Pires e Dom Pedro Casaldáliga, escreveram uma carta
aberta a todos os bispos brasileiros recordando os princípios fundamentais da
renovação eclesial do Concílio Vaticano II: o caráter próprio e de Igreja de
cada diocese, a responsabilidade de todos os bispos junto com o papa pela
Igreja Universal e a necessidade da Igreja retomar o diálogo amoroso com a
humanidade, que o papa João XXIII iniciou.
De
fato, em 1965, os bispos assinaram o pacto das catacumbas para ajudar a Igreja
a se converter e se transformar em uma Igreja pobre e servidora de todos. Mais
tarde, na América Latina, a Teologia da Libertação nos ajudou a ir além disso.
No nosso continente, como na África, a Igreja tem uma dívida histórica, já que
chegou ao continente através dos conquistadores e, apesar da resistência de
muitos missionários, foi conivente com a escravidão e corresponsável da perseguição
e condenação às culturas indígenas e afrodescendentes.
Então,
é ótimo que, como pede o pacto das catacumbas, bispos e padres renunciem a todo
sinal de pompa e poder e se tornem pobres com os pobres. Entretanto, é preciso
ir além: precisamos estar junto dos pobres contra a pobreza injusta que não é
do agrado de Deus e é responsável por muitas mortes e muitos sofrimentos na
humanidade. Isso significa um passo que pastores como Dom Hélder Câmara e
muitos bispos do seu tempo deram: superar preconceitos e dialogar com a parte da
humanidade que procura a transformação social e tem fome e sede de justiça e de
um mundo mais igualitário e livre.
No
passado, muitas vezes, a ideia de revolução esteve ligada com ódio, violência e
luta armada. Hoje, precisamos resgatar a meta de uma revolução social e
política baseada em valores humanos e em uma nova ética. Essa revolução
radicaliza a democracia, toma a educação como tarefa prioritária para
transformar o mundo e valoriza as culturas indígenas e negras. Na América
Latina, essa é a proposta do novo bolivarianismo. Para quem é cristão, lembra o
que escreveu Paulo aos romanos: “Não se conformem com esse mundo, mas o
transformem pela renovação de suas mentes” (Rm 12, 1).
Marcelo
Barros , monge beneditino, teólogo e escritor. Tem 44 livros publicados.
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