Por MARIA CLARA LUCCHETTI
BINGEMER
O
desafio de crer nessa contemporaneidade complexa e plural que é a nossa tem
sido tema de muitas obras de renomados teólogos da atualidade. E continua
representando um desafio mais do que atual para a Igreja.
A
secularização e o desencantamento do mundo continuam seu caminho, apesar da
crise da modernidade e da razão potente.
A pós-modernidade resgatou o sagrado, mas é um sagrado sem absolutos e sem rosto, não pode absolutamente ser posto em posição de paridade com o conteúdo da experiência de fé tal como a entende o cristianismo. A pergunta que fica após essas reflexões introdutórias é não apenas se podemos identificar fé e religião. E se a resposta é não, qual dessas denominações corresponderia mais à proposta da revelação cristã.
Se a religião é definida e compreendida como “um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera sobrenatural, divino e sagrado, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças”, da fé não se pode dizer o mesmo. A fé é fundamentalmente uma resposta a uma proposta feita à liberdade do ser humano, que é a ela chamado a responder com todas as dimensões de seu ser. A fé é, portanto, um momento segundo, posterior, que vem depois, assentimento a algo proposto por outro. Crer não é uma iniciativa humana que busca um lugar onde desaguar suas inquietudes e frustrações, mas, pelo contrário, uma atitude fundamental de recepção, aceitação, que gera então entrega, compromisso e empenho radical da vida.
A pós-modernidade resgatou o sagrado, mas é um sagrado sem absolutos e sem rosto, não pode absolutamente ser posto em posição de paridade com o conteúdo da experiência de fé tal como a entende o cristianismo. A pergunta que fica após essas reflexões introdutórias é não apenas se podemos identificar fé e religião. E se a resposta é não, qual dessas denominações corresponderia mais à proposta da revelação cristã.
Se a religião é definida e compreendida como “um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera sobrenatural, divino e sagrado, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças”, da fé não se pode dizer o mesmo. A fé é fundamentalmente uma resposta a uma proposta feita à liberdade do ser humano, que é a ela chamado a responder com todas as dimensões de seu ser. A fé é, portanto, um momento segundo, posterior, que vem depois, assentimento a algo proposto por outro. Crer não é uma iniciativa humana que busca um lugar onde desaguar suas inquietudes e frustrações, mas, pelo contrário, uma atitude fundamental de recepção, aceitação, que gera então entrega, compromisso e empenho radical da vida.
Todo
o sentido, toda a importância e a relevância da fé se apoiam sobre algo
místico, espiritual. Vêm do fato de secundarem uma proposta que emana de Alguém
que não é igual a todos: Deus. O mais importante na dinâmica de fé é de
quem é a proposta à qual se responde. Ela é divina e gera uma experiência
mística.
A
Revelação chega ao ser humano como graça que surpreende e convoca sua
liberdade. A proposta é graça, é gratuita e a resposta igualmente
só pode ser gratuita por ser igualmente fruto da graça. É graça de Deus não só
o fato de ele fazer essa proposta ao ser humano, mas também o fato de poder
ouvi-la, aceitá-la e a ela responder na fé. O próprio querer crer já é
dado por Deus, cuja graça e misericórdia a tudo se antecipa. Consentir ou
rejeitar essa oferta gratuita, no entanto, é próprio da liberdade humana, que
aí é envolvida e interpelada de maneira definitiva. A decisão de dizer
SIM ou NÃO é do ser humano e de mais ninguém, embora sempre sustentado e
ajudado pela graça de Deus.
Sendo primordialmente dom, a fé também é tarefa. Se for verdade que recebemos de Deus, sem mérito algum de nossa parte, esse dom que é a fé, também é verdade que esse dom implica responsabilidade, empenho concreto. Aí estará o critério de verificação que demonstrará que a fé é algo verdadeiro e não produto da nossa imaginação e experiência que aliena em vez de comprometer, e é busca frenética e ilusória de si mesmo e não entrega e resposta a algo que veio até nós por parte de Outro.
Sendo primordialmente dom, a fé também é tarefa. Se for verdade que recebemos de Deus, sem mérito algum de nossa parte, esse dom que é a fé, também é verdade que esse dom implica responsabilidade, empenho concreto. Aí estará o critério de verificação que demonstrará que a fé é algo verdadeiro e não produto da nossa imaginação e experiência que aliena em vez de comprometer, e é busca frenética e ilusória de si mesmo e não entrega e resposta a algo que veio até nós por parte de Outro.
Crer
tem muitos significados. Mas em se falando em termos da fé cristã, crer
tem a ver com encontro, com confiança. É um ato pessoal que só pode ser
praticado e vivido pelo ser humano. No Antigo Testamento, a palavra mais
próxima do que hoje entendemos por fé é Amém, que quer dizer afiançar,
afirmar, segurar-se em. Esta palavra também é usada no Novo Testamento,
sobretudo quando o autor bíblico quer se referir a Jesus Cristo. Ali é
dito que ele é o Amém do Pai, o Amém de Deus para nós. Jesus Cristo seria
a demonstração mais completa de que Deus ainda crê na humanidade.
Por
isso, disse o Papa Francisco com muita razão ao chegar no Rio de Janeiro para
as JMJ: “Cristo bota fé nos jovens”.
Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do departamento
de teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “O mistério e o mundo –
Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
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