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quarta-feira, 11 de março de 2015

AS CINQUENTA NUANCES DE GREY

por Assuero Gomes


A luta das mulheres para conseguir os mesmos direitos dos homens é um luta histórica, desde os princípios da civilização, que deu-se com a hegemonia masculina. No século XX tivemos embates gloriosos onde, à custa de muita dor e sofrimento, como num trabalho de parto difícil, finalmente as mulheres, nos países civilizados, estão no mesmo patamar de direitos e deveres dos homens. São respeitadas e queridas. No Brasil ainda se engatinha no processo civilizatório com retrocessos gritantes. No ano de 2014 tivemos mais de 50.000 agressões.

Atitudes machistas, especialmente no Norte e Nordeste são aceitas
veladamente pela sociedade e no recinto do lar mais ainda, mas as mulheres estão tomando consciência e perdendo o medo de fazer a denúncia.

Algumas coisas, no entanto, me fogem ao entendimento. Uma delas, o sucesso do livro e do filme "Os 50 tons de cinza", mais de 100 milhões de livros vendidos e outra multidão (especialmente de mulheres) no cinema.

Vi o filme, não li o livro. Uma história de puro sadomasoquismo (porque quem é sádico implicitamente é masoquista). Uma menina simplória e encantada por um rapaz (ou seria pelo poder que ele representa) muito rico, que tem um prazer mórbido em provocar sofrimento nas suas parceiras e manter uma relação de
dependência extrema, e ela de sentir prazer na própria dor.

Os gregos relatam o Amor em três nuances: Ágape, Filos e Eros.

Ágape seria o amor 'racional' que se tem pelo outro ou pelos outros e pela humanidade, o amor de uma criança, o amor de ser humano e o prazer de estar junto numa refeição fraterna por exemplo. Filos por sua vez tem uma conotação fraterna, o amor entre irmãos e entre amigos, denota o altruísmo que deve permear o relacionamento entre pessoas sem interesse egoístico.

Quanto a Eros estaria mais ligado à paixão, à atração sexual mas não
obrigatoriamente, ao amor à beleza do outro tanto interna como externa.

Nenhuma dessas formas humanas de amor é contemplada por Grey e sua escrava, pois o amor tem por princípio a felicidade recípocra e a liberdade. Para o tipo de relacionamento de Grey e Anastasia os gregos utilizam o termo Porneia.

Muitas das mulheres que leram o livro e viram o filme não se escandalizaram nem protestaram, muito pelo contrário, esperam o lançamento do próximo. Como entender isso?

Creio que merece um estudo sociológico e psicológico mais profundo para se encontrar as raízes comportamentais de uma sociedade doente.

A violência está dentro de nós e sua permissão também. A submissão está dentro de nós e só existe se permitirmos. A morbidez, os desvarios, os calabouços, a perversidade, os porões que habitamos precisam ser iluminados, para que brilhe nosso futuro e nossa humanidade resplandeça.



Assuero Gomes é Médico e Escritor

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