Marcelo
Barros
Nesses
dias, (de 24 a 28 de março), em Túnis, no norte da África, ocorreu mais uma
sessão (a 15a) do Fórum Social Mundial. Sempre com a bandeira de “um
outro mundo é possível”. Dessa vez, o Fórum assumiu como tema principal a
defesa da dignidade humana e dignidade da vida. Incluem-se nos direitos a serem
promovidos os do ser humano, das comunidades originais, assim como os
necessários cuidados com a natureza, assim como o estatuto correspondente a
direitos do Cosmos, da terra, da água e de todos os seres vivos.
O
Fórum Social Mundial é um processo que começou em Porto Alegre em 2001. Desde
então percorreu vários continentes. A cada sessão tem reunido organizações
sociais, movimentos, intelectuais e militantes de base vindos de todo o mundo
em uma assembleia da humanidade. O processo dos fóruns sociais parte da
percepção de que a atual forma de organizar o mundo está em crise. No mundo
todo, as pessoas sofrem a insegurança de viver em uma sociedade na qual o
desemprego é estrutural e desejado pelas empresas que mandam nos Estados. Os
cidadãos pagam impostos, mas não veem respeitados seus direitos sociais. Já em
1948, a ONU reconhecia esses direitos como universais e imprescindíveis para toda
pessoa humana. A natureza sempre passou por épocas diferentes. Em todas elas,
houve catástrofes ecológicas. Mas, em nenhuma outra época, a crise ecológica
chegou a esse ponto. Dessa vez, provocada pela ambição e prepotência do ser
humano. Diante de tudo isso, o Fórum Social Mundial mostra que não basta protestar.
É preciso sentir-se responsáveis e organizar-se para preparar um novo mundo
possível. A carta de princípios do Fórum, estabelecida pela Comissão
Internacional que organiza o processo, deixa claro que se trata de uma
iniciativa não partidária que reúne cidadãos do mundo inteiro. No Fórum, todos
são iguais e não existem autoridades que dominam. Em cada fórum, os movimentos
e organizações sociais se encontram e organizam atividades autônomas sobre os
mais diversos temas. O Fórum não se constitui como “central de movimentos
sociais e organizações não governamentais”. Proporciona espaço para que as mais
diferentes iniciativas de base e os trabalhos sociais dos diversos grupos se
conheçam, dialoguem entre si e se articulem em vista de um caminho comum.
Desde
janeiro de 2001, quando ocorreu o 1o Fórum Social Mundial, até esse
final de março, quando a sociedade civil internacional se reuniu em Túnis, no
12o Fórum Social, o mundo mudou muito. Em alguns aspectos para
melhor. Na América Latina, nos últimos dez anos, cresceu muito a consciência de
uma unidade comum. Nossos povos, desde séculos, submetidos aos impérios do
mundo, deram passos na direção de sua autonomia e libertação. É claro que
impérios como o governo dos Estados Unidos da América não aceitam isso. Fazem tudo
para deter esse caminho. Nesses dias, intelectuais latino-americanos, teólogos
da libertação, personalidades que receberam o prêmio Nobel da Paz e o padre
Miguel d’Escoto, ex-secretário da assembleia geral da ONU, escreveram uma carta
ao presidente dos Estados Unidos. Na carta, insistiram que Obama parasse com
essa guerra ideológica. Denunciavam que, durante décadas, o governo
norte-americano financiou golpes de Estado e derrubou os governos mais
populares em nosso continente. Atualmente, como não tem mais clima para
continuar a cometer esse tipo de ações, cria um clima de ameaça e insegurança permanente
em países como a Venezuela e Bolívia. Diante de tudo isso, é mais do que urgente
pensar juntos novas bases para uma sociedade internacional.
Esse
fórum se encerra na véspera da semana na qual as Igrejas cristãs celebram a
doação da vida de Jesus e sua Páscoa, ou seja, sua presença viva nas
comunidades que continuam o seu caminho e sua missão para realizar no mundo o
projeto divino de justiça e de paz. É importante que os cristãos celebrem essa
Páscoa como abertura para o diálogo com os outros crentes e como símbolo de um novo
fórum mundial de pessoas que creem em Deus e por isso creem mais ainda em um
novo mundo possível.
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