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quarta-feira, 4 de março de 2015

“O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO” (Glauber)

 por   Juracy Andrade


Falo hoje a minhas leitoras e meus leitores sobre um opúsculo que escrevi em 2006, encomendado pelo jornalista e amigo Fernando Portela, sócio à época da editora paulista Terceiro Nome. Perdão pela publicidade. Seu título é Padres comunistas!, com o subtítulo “O que pensa e por onde anda a Igreja de esquerda no Brasil”. Título e subtítulo escolhidos pelos editores. Eu teria posto uma interrogação no título, em vez de exclamação, e não concordo que exista uma Igreja de esquerda, pois o cristianismo é uma religião e não uma instituição política. Embora tenhamos de concordar que a religião (todas elas) interage profundamente com a política, a cultura. Os editores têm suas exigências com escritores pouco conhecidos.

Uns 40 anos antes, quando o golpe de 1964 já havia vitimado o país, eu havia cometido outro livro sobre a Igreja, escrito logo após minha passagem pelo clero e minha licenciatura em teologia em Lyon. Eduardo Portela, que mais adiante seria ministro da Educação, tem uma editora no Rio, Tempo Brasileiro, e se dispôs a publicar trabalhos produzidos pelo pessoal da equipe de Paulo Freire. Ele é baiano, mas fez o curso de direito no Recife e é muito ligado à cidade. Os originais do meu livro, A Igreja na Cidade (cidade aí como civilização), estavam com ele quando os gorilas a serviço dos Estados Unidos, instigados e financiados também pelos inamovíveis senhores da casa-grande, derrubaram o presidente constitucional, Jango, para implantar uma ditadura sangrenta e burra de mais de 20 anos. Eduardo Portela manteve o compromisso e o livro saiu em 1965.

Mas eu andava preso ou me escondendo aqui e ali. Não houve lançamento oficial nem se podia fazer muito alarde. O livro não teve muita saída, apesar de um excelente prefácio de Roberto Alvim Corrêa e de boas críticas na imprensa, inclusive uma de  Otto Maria Carpeaux. Aproximei-me do Alvim Corrêa numa temporada que passei no Rio, pensando em me mandar de volta à Europa. Uma tarde, fomos tomar chá na famosa Colombo. Numa mesa perto estavam umas mocinhas, também sorvendo chá, e ele fez esta observação “Nous sommes à l’ombre des jeunes filles en fleur”, aludindo a um título de Marcel Proust em seu monumental e saboroso A la recherche du temps perdu. Ele era meio francês. Morara muito tempo em Paris onde teve uma livraria.

Algo semelhante ocorreu com o meu segundo livro. Logo após o lançamento, os sócios da Terceiro Nome se separaram. A Terceiro Nome ficou com Mary Lou Paris. Meu livro passou para uma editora de Fernando Portela. Enquanto esses arranjos se faziam, não houve muita divulgação. Se eu ainda tiver tempo, nesta minha peregrinação terrena, penso em fundir aqueles dois livros, que podem ser de utilidade a quem deseja uma Igreja desvaticanizada (quem sabe Francisco consegue essa façanha?). Creio que ambos estão esgotados, mas dou aqui uns endereços a quem interessar possa: www.editoramostarda.com.br, www.terceironome.com.br, e o e-mail de Fernando Portela – fatportel@gmail.com.

Já que falei em Francisco, o cabra é bom mesmo. Que cochilo dos cardeais! (Lembram A ceia dos cardeais, de Júlio Ribeiro?: “Como arcebispo d’Ostia e cardeal deão, cumpre-me receber o embaixador de França”.) Creio que eles comeram demais antes da seção do conclave que escolheu Franciscio: vino, pasta asciuta, molto pandolce ..., e ficaram sonolentos. Queriam uma siesta e deu no que deu. É o “Dragão da Maldade” (a Cúria) “conta o Santo Guerreiro”.

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Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

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