por Marcelo Barros
Atualmente, no mundo inteiro, a onda
de refugiados triplicou. Somente na África oito conflitos internacionais ou
internos geram dez milhões de refugiados. Na Ásia, a guerra civil na Síria faz
com que multidões imensas procurem sair do país para escapar com vida aos
mísseis norte-americanos e à mortandade que vem de um lado e do outro. Nas
portas da Europa, a cada dia, milhares de pessoas veem as fronteiras fechadas e
são obrigadas a sobreviver prisioneiras em campos de concentração para não
voltarem aos seus países. E a maioria dos refugiados nem procuram os países
ricos. Já sabem que serão mal recebidos. Tentam países pobres do mesmo
continente. Somente no Quênia, 300 mil somalis foram repatriados de um campo de
fronteira. Na América Latina, a guerra civil na Colômbia provocou a fuga de
milhares de pessoas para países vizinhos e para a Europa. Mais do que o
terremoto, a opressão do império norte-americano sobre o Haiti provoca a fuga
de milhares de haitianos que saem do seu país para sobreviver. Nesses últimos
três anos, o Brasil recebeu dez milhões
de refugiados/as, vindos de 79 países diferentes.
Segundo o Alto Comissariado da ONU
para Refugiados (ACNUR), refugiada é toda a pessoa que, em razão de fundados
temores de perseguição, é obrigada a sair do seu país de origem e
nacionalidade. Devido à sua raça, religião, nacionalidade, pertença a
determinado grupo social ou opinião política, essas pessoas buscam refúgio fora
do seu país de origem. E, por se sentirem ameaçadas, não podem regressar ao
mesmo. Em muitos casos, as pessoas são obrigadas a deixar seu país devido a
grave e generalizada violação de direitos humanos. Nos últimos anos, além de
refugiados por motivos políticos, temos também muitos refugiados/as ambientais.
Saem de suas terras por causa de catástrofes ambientais e desastres
naturais. Atualmente, calculam-se em
mais de 65 milhões de pessoas no mundo em condições de refugiados/as.
O direito de refúgio é dos mais
antigos direitos humanos existentes na terra. Há milhares de anos, mesmo
impérios e civilizações antigas o reconheciam. Na Idade Média, as Igrejas e
mosteiros eram lugares sagrados de refúgio. Quem ali se abrigasse tinha a sua
vida e segurança protegidas. No século XX, a primeira e a segunda grande guerra
provocaram uma onda imensa de refugiados. Eram pessoas que fugiam dos países da
Europa, destruídos pelas bombas. Para sobreviver com suas famílias, migravam
para a América ou para algum país da Ásia. Hoje, a onda de refugiados vai no
sentido contrária. A maioria vem dos países mais pobres do mundo. Aos
refugiados se junta uma multidão maior ainda de migrantes, pessoas que tentam
sair dos seus países, não por perseguições políticas ou por guerras, mas por
causa da pobreza e da fome. Tentam sobreviver em alguma terra estrangeira.
Em 1948, a Declaração dos Direitos
Humanos reconhecia como direito humano a possibilidade das pessoas fugirem de
situações de guerra ou/e de fome e migrarem para outros países. No entanto, a
sociedade atual, dominada pela idolatria do mercado, é mais cruel do que as
antigas civilizações imperiais. Trata os refugiados de modo pior do que os
senhores feudais da Idade Média agiam com os seus inimigos. Somente nesse ano
de 2016, se calculam em mais de 2700 o número de migrantes da África e da Ásia que
buscavam refúgio na Europa e naufragaram no mar Mediterrâneo. Foram engolidos
pelo mar, mas porque já haviam sido condenados à morte pelos governos da
Itália, Grécia, França e de outros países civilizados da Europa.
O papa Francisco tem repetidamente
chamado a atenção do mundo para o drama dos refugiados e para a necessidade de
uma nova aliança de solidariedade entre toda a humanidade. Quem é cristão
precisa lembrar que sua fé descende de Abraão, velho migrante que, segundo a
Bíblia, saiu do atual Iraque para onde hoje é Israel. E, conforme o evangelho,
assim que nasceu, Jesus se tornou refugiado. José e Maria fugiram da Judéia com
o menino e se refugiaram no Egito. Essas tradições não existem apenas para o
sentimentalismo de devoções individualistas, mas para pedir que nos
posicionemos pela justiça e pela solidariedade com toda pessoa migrante e
refugiada.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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