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sábado, 20 de fevereiro de 2021

IMPELIDOS AO DESERTO

 

Fabio Potiguar dos Santos


 A celebração central da fé e experiência cristã é a Páscoa do Senhor Jesus, sua morte e ressurreição.

 A Igreja na sua pedagogia divina, desde os primórdios, dedicou um tempo especial de quarenta dias para preparar nos corações dos fiéis a grande solenidade. Esse tempo litúrgico é chamado de “Quaresma”. Durante esse período, através da oração, jejum e da esmola, cada um de nós é convidado à conversão, morrendo com Jesus para a vida velha do mal , afim de na Páscoa verdadeiramente ressuscitar com Ele para uma vida nova no bem.

 Nos proclama o evangelista Marcos que “ o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. E Ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; e vivia entre as feras, e os anjos o serviam” ( Mc 1,12-13).  Naquele tempo o Espírito impeliu Cristo ao deserto. Hoje, esse mesmo Espírito, impele o Corpo de Cristo, que é a Igreja, ao deserto da quaresma para com sua Cabeça, Jesus Cristo, lutar e vencer a Satanás. Nessa luta somos mais que vencedores graças Àquele que nos amou.

 Ir ao deserto é um confronto consigo mesmo, com o meu “eu” verdadeiro, sem máscaras e despido. Nele encontramos feras e anjos. Nesse mundo agitado e superficial,  consciente ou inconscientemente,  evitamos esse encontro aí.  Há em nós anjos e feras, qualidades e limites, erros e acertos, bondade e iniquidade. Não podemos cair naquela tentação de que eu não tenho valor e ficar caído nos complexos de inferioridade, achando que não sou ninguém. Também não se vislumbrar achando que sou o máximo, o perfeito e o todo santo. O deserto me ajuda a não ir nem para um lado nem para o outro. É um lugar de ajuda para  o equilíbrio do meu ser.

 Porém, essa unidade interior – que é uma busca na vida inteira até o último suspiro – não acontece se e eu não travo com sinceridade, humildade e carinho a luta contra os meus demônios e a vitória sobre eles.  No solidão do deserto não estou sozinhos. Foi Deus que me levou até ele. Cristo foi levado ao deserto movido pelo Espírito. Eu também. “Eu mesmo, o Senhor, vou te seduzir ao deserto, e falar-te ao coração”(Os 3,16). Não estou só. Estou com Cristo, e conduzido pelo Espírito, estou mesmo no centro do coração de Deus.  A quaresma é esse momento litúrgico e mistagógico de lutar e vencer.

 “No momento favorável, eu te atendo, e no dia da salvação venho em teu socorro. Eis agora o momento inteiramente favorável. Eis agora o dia as salvação!” ( 2 Cor 6,2 ).

A quaresma é esse “agora” de Deus em nossas vidas. Tempo favorável, dia de salvação. Assumo  minha grandeza e pequenez, santidade e pecado. Aceito com amor os meus limites, procurando superá-los ou conviver com aqueles que não mudam, mas se transformam mesmo assim em fonte de energia. “Quando sou fraco, então é que sou forte”( 2 Cor 12, 10). Também Reconheço os meus pecados, e nesse momento inteiramente favorável,  profundamente arrependido, confesso os meus pecados e,  recebo o amor de Deus que não somente me perdoa, mas converte a minha vida e transforma o meu coração.

 Quaresma. Todos, sem exceção, deixemos ser envolvidos pela misericórdia das entranhas maternas do coração de Deus. Por maior que sejam os nossos pecados, maior, bem maior é o perdão de Deus. “Se o nosso  coração  nos acusa, Deus é maior que o nosso coração”( 1 Jo 3,20 ). Ele sustenta  todo aquele que vacila e levanta todo que tombou.(Sl 144,14)Ele perdoa inteiramente nossas faltas, cura-nos de nossas feridas de nossas maldades, nos cerca de carinho e de ternura (Sl 102,3), nos une ao Cristo, nos tornando um ser ser com ele para que Ele como El morreu, nós morramos. Para que como Ele ressuscitou, nós ressuscitemos (Rm 6,4).

  Padre Fabio Potiguar Santos Capelão das Fronteiras, membro da Comissão de Justiça e Paz e coordenador da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter- religioso da Arquidiocese de Olinda e Recife

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