Fabio
Potiguar dos Santos
A
celebração central da fé e experiência cristã é a Páscoa do Senhor Jesus, sua
morte e ressurreição.
A
Igreja na sua pedagogia divina, desde os primórdios, dedicou um tempo especial
de quarenta dias para preparar nos corações dos fiéis a grande solenidade. Esse
tempo litúrgico é chamado de “Quaresma”. Durante esse período, através da
oração, jejum e da esmola, cada um de nós é convidado à conversão, morrendo com
Jesus para a vida velha do mal , afim de na Páscoa verdadeiramente ressuscitar
com Ele para uma vida nova no bem.
Nos
proclama o evangelista Marcos que “ o Espírito Santo impeliu Jesus para o
deserto. E Ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; e
vivia entre as feras, e os anjos o serviam” ( Mc 1,12-13). Naquele tempo o Espírito impeliu Cristo ao
deserto. Hoje, esse mesmo Espírito, impele o Corpo de Cristo, que é a Igreja,
ao deserto da quaresma para com sua Cabeça, Jesus Cristo, lutar e vencer a
Satanás. Nessa luta somos mais que vencedores graças Àquele que nos amou.
Ir
ao deserto é um confronto consigo mesmo, com o meu “eu” verdadeiro, sem
máscaras e despido. Nele encontramos feras e anjos. Nesse mundo agitado e
superficial, consciente ou
inconscientemente, evitamos esse
encontro aí. Há em nós anjos e feras,
qualidades e limites, erros e acertos, bondade e iniquidade. Não podemos cair
naquela tentação de que eu não tenho valor e ficar caído nos complexos de
inferioridade, achando que não sou ninguém. Também não se vislumbrar achando
que sou o máximo, o perfeito e o todo santo. O deserto me ajuda a não ir nem
para um lado nem para o outro. É um lugar de ajuda para o equilíbrio do meu ser.
Porém,
essa unidade interior – que é uma busca na vida inteira até o último suspiro –
não acontece se e eu não travo com sinceridade, humildade e carinho a luta
contra os meus demônios e a vitória sobre eles.
No solidão do deserto não estou sozinhos. Foi Deus que me levou até ele.
Cristo foi levado ao deserto movido pelo Espírito. Eu também. “Eu mesmo, o
Senhor, vou te seduzir ao deserto, e falar-te ao coração”(Os 3,16). Não estou
só. Estou com Cristo, e conduzido pelo Espírito, estou mesmo no centro do
coração de Deus. A quaresma é esse
momento litúrgico e mistagógico de lutar e vencer.
“No
momento favorável, eu te atendo, e no dia da salvação venho em teu socorro. Eis
agora o momento inteiramente favorável. Eis agora o dia as salvação!” ( 2 Cor
6,2 ).
A
quaresma é esse “agora” de Deus em nossas vidas. Tempo favorável, dia de
salvação. Assumo minha grandeza e
pequenez, santidade e pecado. Aceito com amor os meus limites, procurando
superá-los ou conviver com aqueles que não mudam, mas se transformam mesmo
assim em fonte de energia. “Quando sou fraco, então é que sou forte”( 2 Cor 12,
10). Também Reconheço os meus pecados, e nesse momento inteiramente
favorável, profundamente arrependido,
confesso os meus pecados e, recebo o
amor de Deus que não somente me perdoa, mas converte a minha vida e transforma
o meu coração.
Quaresma.
Todos, sem exceção, deixemos ser envolvidos pela misericórdia das entranhas
maternas do coração de Deus. Por maior que sejam os nossos pecados, maior, bem
maior é o perdão de Deus. “Se o nosso
coração nos acusa, Deus é maior
que o nosso coração”( 1 Jo 3,20 ). Ele sustenta
todo aquele que vacila e levanta todo que tombou.(Sl 144,14)Ele perdoa
inteiramente nossas faltas, cura-nos de nossas feridas de nossas maldades, nos
cerca de carinho e de ternura (Sl 102,3), nos une ao Cristo, nos tornando um
ser ser com ele para que Ele como El morreu, nós morramos. Para que como Ele
ressuscitou, nós ressuscitemos (Rm 6,4).
Padre Fabio Potiguar Santos Capelão das Fronteiras, membro
da Comissão de Justiça e Paz e coordenador da Comissão para o Ecumenismo e o
Diálogo Inter- religioso da Arquidiocese de Olinda e Recife
Excelente, Padre Fábio
ResponderExcluirTempo propício para reflexão e conversão