FREI ALOÍSIO FRAGOSO
10/02/2021
Nossa última reflexão deixou suspensa no
ar uma pergunta endereçada aos cristãos conscientes de seu papel neste mundo
controverso: haverá nele espaço confiável onde possa medrar nossa esperança? Ou
temos que criar um outro mundo paralelo e aí nos estabelecer?
Nossa resposta tem como ponto de partida
algo que Sto. Agostinho escreveu, ao relembrar sua tardia conversão:
"Tarde Te conheci, oh Beleza tão antiga e sempre nova, tarde Te conheci. Tu estavas em mim e eu, fora de mim,
Te procurava". Nossa resposta, portanto, não procede de lógica, de
cálculos, de filosofias. Ela é um ato de Fé. Ela já está dentro de nós antes de
acontecer, e, a partir de nós, pode ser gerada. (São Paulo sugere que somos
responsáveis por esta gestação quando escreve: "O mundo está grávido de
Deus"). No entanto ela se comprova
em fatos incessantes, vividos e partilhados historicamente, nestes mais
de 2000 anos de Cristianismo.
Caso eu tivesse de filmar um documentário
sobre a História da Humanidade, lhe daria um título plagiado de Érico
Veríssimo: "O Tempo e o Vento". De fato, homens e mulheres,
habitantes deste planeta, jamais estacionaram em algum tempo da História,
jamais atingiram uma espécie de plenitude, um "non plus ultra" (não
mais além), o gozo de uma felicidade que lhes parecesse plena e definitiva.
Nas páginas da Bíblia, percebe-se como,
dia a dia, século a século, milênio a milênio, o mundo vai se desviando do
Projeto original do Criador. Aquele lance inicial, "Deus viu tudo o que
tinha feito e tudo era muito bom" Gen.1, 31, perde sua validade. O que era
bom de início, como semente geradora de outras coisas boas, passa a gerar
também coisas más. A despeito disso, nunca se desfez a utopia primordial da
Criação. Do que se conclui que nossa História é movida por um "Sopro
Divino", um Vento impetuoso que a Bíblia chama "ruah" e se
traduz por Espírito Superior. Somos conduzidos pelo Tempo e o Vento.
a consumação do Plano do
Criador.
Nestes últimos anos, surgiu das trevas do
tempo um monstro mais mortífero do que o coronavírus, inimigo visceral de toda
utopia, um movimento neo-nazista, querendo desenterrar o fantasma de uma "raça
superior" para o comando dos povos. Seus ataques concentram-se nas redes
sociais, em Centros globais produtores de fake-news, com capacidade de
espalhar, em segundos, milhões e milhões de mentiras que, de tão repetidas,
viram uma nova versão da verdade, na mente de milhões de pessoas. Não nos
amedrontemos. Quando a mentira se avoluma e se espalha imensuravelnente, e se universaliza, ela atinge um ponto de
saturação auto-destrutivo. Atinge uma situação-limite em que não é mais
possível fazer qualquer distinção entre verdade e mentira. Isso implica na
total destruição da linguagem humana, no
fim de qualquer possibilidade de comunicação entre criaturas racionais.
Acontece que nenhum Sistema, nem o Capitalismo, pode sobreviver sem isso, sem
uma confiabilidade
funcional. Daí as
empresas poderosas capitalistas já começam a cortar os recursos técnicos destes
grupos fascistas. A derrota recente de Trump (inconcebível para ele e os seus)
é uma prova deste limite.
Se queremos contribuir com atitudes
capazes de convencer e renovar as estruturas deste mundo, temos que manter a
paciência histórica, a consciência de
que plantamos para outros colherem no futuro, de admitir a necessidade de
grandes sacrifícios e até do sangue de novos mártires. E, contra toda
adversidade, gravar na alma a legenda do evangelista S.João: "A vitória
que vence o mundo é a nossa Fé".
1Jo.5,4.
Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da
Tenda da Fé e escritor.
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