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domingo, 7 de fevereiro de 2021

"CONVERSÃO DE VIDA EM TEMPOS DE CORONAVIRUS"

 FREI ALOÍSIO FRAGOSO


O5/02/2120

 

      Foge ao nosso entendimento racional esse espetáculo de desobediência civil em massa, frente aos decretos de isolamento e uso de máscaras, em defesa da vida.

     Algo maior do que um simples aventureirismo ou a insanidade deve estar por trás de um tal comportamento.

     Para a multidão dos que sobrevivem na miséria, a distância das fronteiras entre vida e morte é muito curta e vale a pena correr este risco em troca de uns poucos prazeres. Eles são vítimas inconscientes da opressão; não adiantou cantar-lhes um velho refrão das "Comunidades de Base":

"eu acredito que o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor".

     No polo oposto, os que acumulam riquezas não admitem qualquer boicote ao seu propósito de esbanjá-las. Acham-se "imortais". Se o dinheiro paga tudo, tem que pagar também sua imunidade. Caso haja vítimas e enterros, fazer o quê? A visão dos mortos não deve impedir seu banquete de Babete.

     Não haverá aí uma indisfarçável filosofia de vida? Jamais lhes passa pela cabeça a perspectiva de um outro mundo diverso deste mundo real onde eles se sentem vivos. Em sua visão embotada, este mundo se assemelha a um objeto de consumo que a gente adquire e abre e descobre um defeito de fabricação, mas não tem como mudá-lo, pois na embalagem está escrito: "se abrir não troca". 

     Então é preciso olhar esta humanidade tal qual, como a medida de todas as coisas. Nada de se comover com anseios e direitos dos demais homens e mulheres que constituem esta humanidade. Menos ainda deixar-se impressionar pela verdade de que  vivemos todos sob um modelo de humanidade imposto pelo Sistema dominante.

 

     O que eles procuram de fato é o prazer hedonista, é gozar, gozar sem nenhum objetivo, gozar sem medo, sem culpa, sem oposição, sem ter que dar conta de seus atos.

Por isso não admitem sequer o contato com outra possibilidade de mundo. Detestam discursos revolucionários, Projetos políticos que desestabilizam o "status quo" e homilias que pregam a conversão de vida.

     Não é, pois, de esperar que este pequeno rebanho de gozadores alguma vez se pergunte: "Que mundo é este que deixaram para a gente"? "Que mundo deixaremos para as gerações futuras?" Acham-se confinados em um determinado tipo de ser e viver humanamente, e este é o destino irrevogável de todos, e este é o melhor dos mundos.

     Para governá-lo, ninguém melhor do que alguém que mais se pareça com um dono de circo ou um tangedor de gado. Alguém que garanta o conservadorismo, o sectarismo e o moralismo, três máscaras da hipocrisia, três disfarces do individualismo mais crasso e obtuso. Se ao Chefe faltar competência, inteligência, moral, sensibilidade, decoro, vergonha, pouco importa, a máquina funciona, pois ela se move por cifrões inesgotáveis e é perita em cooptar outros Poderes Constituídos.

     Aí chega a pandemia do coronavirus e ameaça desmontar esse castelo de alucinados. Que fazer? - Negar as evidências! É hora do Chefe cumprir seu papel . Ele o cumpre bem: "virus? Que virus? A pandemia não existe, ela não pode existir, ela não deve existir, é preciso que ela não exista, bla, bla, bla..."

     E aí, cristãos de todo o planeta, haverá, neste mundo, espaços possíveis para pousar nossa Esperança?

     Certa vez perguntaram a Buda se ele se considerava um deus ou só um grande homem. Ele respondeu: "nem um nem outro; sou apenas alguém que acordou quando todos estavam dormindo"

      (Tentaremos encontrar uma resposta na próxima Reflexão).

 

Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.

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